Com os investimentos públicos espremidos pela crise fiscal e a agenda de concessões ainda por decolar, os aportes em infraestrutura deverão somar R$ 124,6 bilhões em 2020, quase igual aos R$ 121,4 bilhões de 2019, conforme estudo da Inter.B Consultoria obtido com exclusividade pelo Estadão.
A consultoria estima que a pandemia poderá diminuir o valor deste ano em torno de 10% na comparação com as projeções pré-covid-19 - ou seja, cerca de R$ 12 bilhões deixarão de ser investidos por causa de interrupções ou adiamentos de planos.
Pela projeção, os investimentos em infraestrutura atingirão 1,77% do Produto Interno Bruto (PIB) - bem longe do que seria considerado ideal. Nas contas da Inter.B, o Brasil precisaria investir, por ano, 4,24% do PIB em estradas, portos, ferrovias, linhas de transmissão, saneamento e telecomunicações. Se esse porcentual fosse atingido, significaria o desembolso de R$ 174 bilhões só neste ano.
Segundo economistas, além de aumentar a capacidade de crescimento no futuro, o investimento em infraestrutura movimenta a economia atual, ao gerar empregos e demandar insumos.
A pandemia atrasou algumas obras públicas, mas, segundo o presidente da Inter.B, Cláudio Frischtak, como são de longo prazo, os projetos de infraestrutura são menos afetados do que os planos de setores como indústria e varejo. A questão é a crônica falta de recursos para bancar novos projetos, em função da crise fiscal.
Frischtak afirma que a saída é atrair investidores privados para as concessões, mas essa atração é prejudicada por entraves conhecidos, como insegurança jurídica, marcos regulatórios considerados inadequados e interferência política nas agências reguladoras.
Além de atrasos de obras, a Covid-19 traz impactos mistos no médio prazo. Por um lado, a ação dos bancos centrais de todo o mundo manteve os juros baixos na maioria dos mercados, o que, na retomada, favorece a alocação de recursos financeiros em infraestrutura. Por outro, a recessão aumenta a percepção de risco sobre países como o Brasil.
Leilões
Embora a regulação tenha avançado, com destaque para o novo marco do saneamento, o cronograma de leilões sofreu atrasos. O plano era conceder sete trechos rodoviários federais, mas o número caiu para três. Para a próxima rodada de aeroportos, que inclui 22 terminais e está prevista para março de 2021, foi preciso revisar cálculos.
O efeito desses atrasos sobre os valores de 2020 tende a ser pequeno, mas o Barômetro da Infraestrutura, pesquisa semestral da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) com a EY, mostrou em junho que só 17,5% dos empresários projetavam um cenário promissor para investir este ano, ante 47,9% em 2019.