Durante a pandemia de coronavírus (Covid-19), pelo menos 33 milhões de brasileiros afirmaram que, em algum momento, não tiveram dinheiro para comprar mais comida quando o alimento de casa acabou. Outros 9 milhões deixaram de fazer alguma refeição porque não havia comida para toda a família. Os dados são de uma pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), feita pelo Ibope e divulgada ontem.
O estudo busca medir quais foram os impactos primários e secundários da Covid-19 em crianças e adolescentes, dividindo os dados em três tópicos principais: segurança alimentar, renda familiar e acesso à educação. A pesquisa mostra que famílias com jovens de 0 a 17 anos estão mais vulneráveis durante a pandemia em todos os cenários analisados e afirma que crianças e adolescentes são "vítimas ocultas da pandemia".
Enquanto 49% dos brasileiros relataram ter mudado seus hábitos alimentares durante a quarentena, o índice entre residentes com crianças ou adolescentes chega a 59%. O grupo também é o que apresenta o maior aumento no consumo de alimentos industrializados (31%), como macarrão instantâneo, biscoitos recheados e enlatados; de fast food (20%), como hambúrgueres, esfihas etc.; e refrigerantes (19%).
Essas famílias também são as que mais relatam insegurança alimentar no contexto da pandemia. Dentre elas, 27% afirmaram ter passado por pelo menos um momento em que os alimentos acabaram e não tiveram como repor, enquanto 8% deixaram de fazer alguma refeição por falta de dinheiro. Para os núcleos familiares sem criança ou adolescentes, esses índices foram de 17% e 4%, respectivamente.
A má nutrição é apresentada em duas dimensões: a mudança de hábitos alimentares e a redução do acesso a alimentos, a fome. São duas situações extremamente preocupantes", afirma Cristina Albuquerque, chefe de saúde do Unicef no Brasil. Ela observa que o aumento no consumo de comidas processadas leva a uma dieta com poucos nutrientes, rica em sódio e gordura, o que pode acarretar aumento nos índices de obesidade infantil.
Os motivos mais citados para diminuição de renda no grupo foram a redução do salário e do horário de trabalho de alguém da família; a suspensão do emprego, mesmo que temporária; e a impossibilidade de trabalhar, por falta de transporte ou adoecimento.