Lojistas, funcionários e consumidores. Três componentes de uma equação que, mesmo solucionada, vai deixar um rastro de marcas profundas na vida das pessoas. A reabertura parcial do comércio, autorizada desde ontem na região, após mais de 80 dias de portas fechadas por força da pandemia de coronavírus, é mais uma etapa do chamado "novo normal".
O primeiro momento será marcado pelo entusiasmo do retorno, um reencontro de ações gratificantes de consumo e do início da recuperação das vendas, principalmente por ter coincidido com o Dia dos Namorados. Mas a euforia vai passar rápido e as cicatrizes vão aparecer.
Os empresários que conseguiram manter seus negócios em pé perceberão a inevitável queda nos lucros e a necessidade de reinventar faturamentos; o trabalhador ainda empregado terá de conviver com a sombra pesada de uma iminente demissão; e o consumidor precisa ficar atento para evitar as despesas impulsivas.
As cenas vistas ontem deixaram as autoridades preocupadas. Apesar de todas as recomendações dos prefeitos da região e dos especialistas em Saúde, houve aglomeração nas ruas e filas nas lojas. O comportamento de muita gente ameaça interromper o processo de flexibilização da quarentena, pois há a possibilidade de um retrocesso no plano em caso de aumento de casos confirmados e ocupação excessiva dos leitos de UTI.
É compreensível a euforia da retomada, mas é preciso muita cautela. Para os cientistas, a curva de pessoas infectadas e de mortes pela doença ainda não atingiu o topo e a reabertura pode antecipar a segunda onda da crise. Um fio de esperança foi dado nesta semana pelo secretário Municipal de Saúde, Henrique Naufel, em entrevista ao Mogi News. Segundo ele, pelo menos em Mogi das Cruzes, já estamos no pico da doença e ele prevê um início de redução de casos a partir da semana que vem e o começo de uma volta à normalidade já em julho.
Na comparação com o restante do mundo, onde o relaxamento das medidas restritivas só ocorreu quando o quadro estava estabilizado, a flexibilização nacional pode ter sido precipitada.