A China ameaçou na segunda-feira passada retaliar os EUA, a menos que Donald Trump reverta sua decisão de limitar vistos para jornalistas chineses. O atrito é mais um capítulo da disputa diplomática entre Washington e Pequim, uma rivalidade que Jean-Pierre Cabestan, cientista político da Universidade Batista de Hong Kong, chama de "nova guerra fria".
A última fricção é resultado de uma queda de braço que começou em fevereiro, quando os EUA impuseram restrições às ações da imprensa estatal da China no país, descrevendo o trabalho dos jornalistas chineses como "propaganda". Em março, Pequim expulsou 13 jornalistas americanos, todos correspondentes do New York Times, do Washington Post e do Wall Street Journal.
"Lamentamos a decisão errada dos EUA, que é uma escalada da supressão política da mídia chinesa", disse o porta-voz da chancelaria da China, Zhao Lijian. "Os EUA estão entrincheirados em uma mentalidade da guerra fria e em preconceitos ideológicos." Mas a disputa entre as duas maiores economias do mundo não está restrita ao jornalismo.
EUA e China vinham em rota de colisão antes do coronavírus aparecer. Desde que Trump assumiu, em 2017, a Casa Branca declarou uma guerra comercial ao governo chinês, acusado de manipular a moeda e de jogar baixo, impondo aos americanos um déficit comercial de US$ 419 bilhões com a China.
Trump colocou tarifas sobre produtos chineses. A China respondeu, taxando importações dos Estados Unidos. E a relação se deteriorou. "O nível de confiança entre os dois países chegou ao ponto mais baixo desde que as relações diplomáticas foram estabelecidas, em 1979", disse Wang Huiyao, diretor do Center for China and Globalization, de Pequim.
A pandemia, em vez de criar um clima de cooperação, deixou o afastamento mais evidente. A briga sobre a origem do vírus é um reflexo dessa disputa. Em janeiro, Trump elogiava o esforço do presidente Xi Jinping. "A China vem trabalhando duro para conter o coronavírus. Os EUA agradecem o esforço e a transparência (dos chineses)", disse Trump na época.