Mantendo a coerência do discurso utilizado nos últimos dias, o governo de São Paulo decidiu ontem prorrogar a quarentena em todo o Estado até o dia 31 de maio, aumentando a agonia dos setores comerciais que esperavam o início do relaxamento das medidas de restrição a partir desta segunda-feira. Ao anunciar a extensão do confinamento, o governador João Doria (PSDB) classificou como "cenário desolador" a situação do Estado diante do avanço do coronavírus.
Se há algumas semanas a perspectiva era crítica apenas na capital e Região Metropolitana, agora o quadro temerário se espalhou por todo o interior. Há registros de aumento de até 3.300% no número de casos confirmados em algumas regiões do Estado no mês de abril, além do avanço também constatado nas cidades do litoral.
Para que a flexibilização das regras de isolamento fosse iniciada seria preciso a combinação de quatro fatores definidos no Plano São Paulo, que prevê um roteiro para o afrouxamento da quarentena. Em primeiro lugar, a curva de ocorrências de mortes e de novos casos de Covid-19 teria de ser achatada. Não foi. Ao contrário: seguindo as últimas estatísticas, o movimento é ascendente e tudo leva a crer que ainda não atingiu o pico. Como segundo ponto, a ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) nos hospitais deveria estar sob controle, mas os índices beiram os 90% na capital e de até 70% na Grande São Paulo, bem distante de uma cifra ideal.
A terceira questão está nas taxas de isolamento social, que deveriam girar em torno de 70% para justificar o relaxamento. Nos últimos dias, esse índice não passou de 47% no Estado, número considerado baixíssimo e que desmotivou qualquer possibilidade de abertura. Para completar, seria necessária a testagem em massa de pacientes com sintomas de Covid-19, operação inviável pela falta de unidades disponíveis, estrutura operacional limitada e a dificuldade de adquirir o produto no mercado internacional, extremamente concorrido pela ação de países mais desenvolvidos, que acabam tendo prioridade na compra.
Assim, não houve alternativa para São Paulo. A quarentena está prorrogada e todos terão de arcar com as consequências.