Regiões em que as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) já estão com 85% a 90% de sua capacidade preenchidas, como São Paulo e Rio de Janeiro, já deveriam ter decretado lockdown (bloqueio total) e agora correm o risco de ver seus sistemas de saúde entrarem em colapso. Essa é a opinião de especialistas em saúde ouvidos pelo Estadão.
Segundo Ederlon Rezende, do conselho consultivo da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) e coordenador da UTI do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, quando uma UTI chega a uma lotação de 85%, ela já é considerada cheia pois a rotatividade dos pacientes é menor e o cenário pode mudar a qualquer instante.
"Esse índice é problemático porque, dependendo do tamanho da UTI, se chegar dois ou três pacientes, ela já lota", explicou ele.
Para o sanitarista Walter Cintra Ferreira, professor de administração hospitalar e sistemas de saúde da Fundação Getulio Vargas (FGV), embora seja difícil estabelecer a hora certa para o lockdown, a lotação de 90% dos leitos do sistema público já é um indicativo. "Está claro que ainda não chegamos ao pico. Com o aumento de mortes, precisamos manter o distanciamento social no país e decretar lockdown nos Estados que já têm 90% das UTIs ocupadas porque isso significa que já há fila de doentes e que a situação chega perto da perda de controle".
Segundo o governo paulista, os hospitais estaduais da região metropolitana já operam com cerca de 90% de suas UTIs há pelo menos quatro dias. No Rio, mais de 400 pacientes aguardam vaga de terapia intensiva na rede pública.
"O governo federal errou em duas questões: uma foi a postura do presidente Bolsonaro em minimizar a pandemia. Com isso, as pessoas se sentiram compelidas a não seguir as orientações de isolamento. A segunda é a demora no pagamento de auxílio. Isso já deveria estar solucionado no mês passado", afirmou Paulo Lotufo, epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).