Ele vem da Europa. Ninguém desconhece que o contato com pessoas vindas do chamado velho continente são os portadores de uma grave ameaça à saúde humana. O prognóstico não é favorável. A mídia estampa hospitais lotados, médicos e enfermeiros correndo sem saber para onde ir. As notícias divulgadas no país de origem não merecem crédito porque o governo não tem interesse em divulgar uma pandemia que vai afetar a economia e derrubar a produção e o mercado internacional.
Os cientistas buscam as origens do vírus, genericamente conhecido como influenza, e há discordância do animal responsável pela sua propagação. Alguns reputam a uma contaminação de aves que por sua vez contaminam os porcos, que por sua vez contaminam os seres humanos. Não há uma ligação direta entre as aves e os infectados. A doença é um desafio para os institutos de pesquisa que não chegam a um medicamento ou vacina que sejam capazes de imunizar as pessoas. Os curandeiros trabalham a todo vapor.
Da constatação da chegada do vírus para a suspeita de muitos infectados é um passo. Em São Paulo são registrados muitos casos e logo em todo o país novos doentes são anunciados. Os protocolos médicos para impedir a expansão de epidemia são recentes e ninguém tem certeza que vão funcionar. A consequência imediata é a corrida para os hospitais ao primeiro sinal de gripe, e as vezes é apenas um resfriado. Mas o noticiário internacional não deixa ninguém tranquilo. A capital do Brasil é um foco de forte propagação. Nem mesmo uma equipe médica enviada para a Europa para apoiar os aliados na guerra escapa da doença. Já chegam com o vírus atuante. Uma onda de contaminação percorre o país. Pobres e ricos são atingidos. Não escapam nem a burguesia industrial, nem os latifundiários do café. Nem os políticos. O presidente recém eleito em 1918, Rodrigues Alves, morre antes de tomar posse. A gripe espanhola mata no Brasil 35 mil pessoas. No mundo, matou mais do que as duas grandes catástrofes conhecidas como as duas grandes guerras mundiais.