Ele é o principal ministro do governo. Tem em suas mãos o poder conferido pela posse da chave da Casa Civil, um superministério. Vez por outra é rotulado pelos jornalistas de primeiro ministro tal o poder que acumula. Não é apenas o gerentão, o faz tudo, o que mete a mão no esgoto para livrar o presidente da República de tão repugnante atividade. É muito mais. O seu ego é insuportável e quando surge no Congresso há um verdadeiro beija mão, com deputados e senadores de todos os matizes à sua volta.
Ainda assim, vez por outra, os jornalistas que cobrem Brasília se arriscam a dizer que o poderoso ministro pode cair a qualquer momento. Um movimento político do presidente, uma denúncia mal apurada, ou mesmo um sumiço do ministro ou férias no exterior é suficiente para armar uma tempestade política real ou imaginária.
De uma só vez os opositores levantam suspeitas de corrupção contra o chefe da Casa Civil e o presidente da República. Em tempo recorde o ministro é acusado, perseguido, julgado e condenado. Não é possível que ele não soubesse do desvio do dinheiro público, uma vez que antes de fazer parte do Executivo, atuou no Congresso, foco, mais uma vez, de investigação por corrupção. O abalo é imenso, uma vez que o governo anterior tinha deixado o Palácio do Planalto coberto de lama. Depois da roubalheira tudo é possível. O ministro, para preservar o presidente, pediu demissão do cargo. E o presidente aceitou. Henrique Hargreaves, ex-funcionário do Senado se afasta espontaneamente do cargo e é submetido às investigações que apuram o assalto aos cofres públicos por uma quadrilha conhecida como os anões do orçamento.
Entre os flagrados com a mão no dinheiro do contribuinte, um desconhecido deputado da Bahia, Gedel Vieira Lima. Três meses depois, sem comprovação das denúncias contra ele, Henrique Hargreaves volta para o cargo e lá permanece até o final do governo de Itamar Franco. Um exemplo raro na história política do Brasil. O costume é não pedir demissão nem de síndico de prédio.