O presidente da República endossa por meio de mensagem enviada via aplicativo Whatsapp para pessoas próximas uma convocação para manifestação popular em seu favor, contra os inimigos do Brasil, enumerando os poderes Legislativo, Judiciário e políticos diversos não alinhados ao governo, ou seja, todos, ou quase todos.
Some-se a isso as falas de seus ministros e a própria conduta do presidente no exercício do cargo e temos uma flagrante demonstração de desrespeito às instituições democráticas e à Imprensa. Tudo o que um governo totalitário gosta, Imprensa silente e instituições enfraquecidas. Só o Executivo manda e ninguém pode questionar. Parece que o presidente não aprendeu com Collor. Convocar o povo em seu apoio pode ser o início de seu fim. Acuado, Collor fez o mesmo e colheu manifestações populares que o levaram ao primeiro impedimento após a primeira eleição direta para presidente no Brasil.
O fato é que o atual governo não mostra resultado e é isso que tem incomodado o presidente e mais ainda a população que votou contra o PT. Não adianta colocar a culpa no Congresso Nacional ou no STF. Se o governo patina é porque não ouve ninguém, quer impor suas verdades, sem discussão, sem debate e sem concessões.
Faz parte de nosso sistema democrático a liberdade de Imprensa, o pluralismo político e o respeito às instituições constituídas, especialmente os Poderes Legislativo e Judiciário. Não se governa sozinho nem se incita a população contra os poderes constitucionalmente estabelecidos. Não basta respeitá-los formalmente, é preciso defendê-los como se fossem um só.
A instabilidade que se procura gerar com a convocação para o dia 15 de março não deve passar em branco. Está na hora do Congresso Nacional, o poder Judiciário e a sociedade civil organizada revelar os limites ao presidente da República, os sucessivos ataques que passaram em branco resultaram no que vemos hoje, uma convocação pública em seu favor, o que não pode ficar sem resposta.