Quem não se descobre e não se assume quanto aos valores biográficos está condenado a se repetir ao longo da vida, ainda que em tempos e lugares diferentes. É um repetente do instante biográfico definido por um antes e um depois, significativos. Todo devir biográfico é marcado pelo instante: um novo que modifica ou transforma o que aconteceu. Dado valor, atemporal, que interage com o tempo de vida e a partir daí transforma-o na temporalidade pessoal da vida biográfica. A nossa biografia narra histórias vividas e vivenciadas que nos marcaram.
Assim se pode enfatizar o instante existencial: o instante de uma mudança. A vida humana faz-se de uma descontinuidade de momentos, ao formar parte da memória. Entre eles, aparecem opacidades e penumbras, participantes ativos, por assim dizer, de seu horizonte temporal. Por vezes acontece tocarem o atemporal: eis o instante.
Com base nisso, o que se vê na realidade é que: só mentes lúcidas se ocupam da renovação existencial, ou do domínio do noético. Renovação como movimento pessoal através das esferas em que se dá o existir.
A anamnese das ideias perseguidas é conhecida pela vida biográfica: um movimento cognitivo, de lembrança, e afetivo, da recordação, voltado para trás. Opondo-se à renovação: um movimento vocacional para diante, teleológico. A ananeose como anseio do espírito humano. Movimento corajoso, com o abandono da segurança do hábito, para a incerteza do porvir. Anseio nada isento de angústia, de ansiedade. Ansiedade existencial que vai paradoxalmente a par do anseio de renovação: um sinal da perfeição humana. Como querem alguns.
Em geral visto como patológico ou inimigo a ser combatido. Sob a perspectiva existencial: necessária ao bom desempenho ético. Por ela se toma cuidado quanto ao caminho a ser percorrido, tal sinal amarelo nos semáforos dos cruzamentos da vida. Sob a tácita atenção para o que acontece, no já e agora, e para o trajeto a ser escolhido no devir. O princípio constitutivo da relação eu/tu.