O vice-presidente é visto como uma ameaça constante. A qualquer momento pode reunir forças e tentar ocupar o lugar do titular. Está escrito na Constituição que na falta do presidente ele assume até o final do mandato.
No passado era um pouco diferente, na república velha só governaria até o fim se fosse empossado depois de dois anos do mandato do titular. Se a sucessão ocorrese antes teria que convocar novas eleições. Mas há exceções. No primeiro governo republicano, Deodoro derrubado por um golpe de estado, o vice, Floriano Peixoto ignorou a lei e governou até o final do mandato do titular e não convocou eleições. Contudo na nova república brasileira o vice não precisa se preocupar com isso. Toma posse mansa e pacífica e governa. Depois, obviamente, tenta uma reeleição graças ao poder da máquina estatal e a caneta azul que assina emendas parlamentares e populdos contratos com as empreiteiras de boca aberta, famintas. O que se espera é uma convivência civilizada pelos dois.
O antagonismo do vice com o titular é de ordem ideológica. Um é ligado aos movimentos de esquerda, aos sindicatos, aos partidos radicais e intelectuais engajados. Defende uma forte participação do Estado na economia, com o controle dos preços de produtos básicos, como gasolina e diesel, a nacionalização via expropriação, de empresas estrangeiras em setores considerados estratégicos como comunicação, energia elétrica e petróleo.
As divergências de caráter político e ideológico, um conservador e outro apoiado pelas esquerdas, só pode dar no que deu. Há um afastamento entre eles. É verdade que não foi o titular que escolheu o vice, uma vez que a constituição estabelece que são dois votos separados. Assim é possível votar para presidente em Jânio Quadros e para vice em Joaõ Goulart. O quadro só pode evoluir para o pior : o presidente manda o vice para a China, tenta um golpe de estado, sem sucesso, e os militares entram em cena para impedir a posse de Goulart. Daí para frente deu no que deu : o golpe civil-militar de 64.