Há uma dificuldade patente em separar as ações sociais promovidas pelo governo em benefício das pessoas de uma contrapartida política para a sua própria manutenção. Como em boa parte das relações existe sempre um sentimento de troca, é praticamente impossível descartar o interesse disfarçado na generosidade de um programa social. Assim, desde que foi criado oficialmente em 2004 pelo então presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva, o Bolsa Família vive cercado de desconfiança nas suas reais intenções. Hoje, de acordo com dados oficiais, são 14 milhões de famílias brasileiras, abrigadas nas categorias de pobreza e de extrema pobreza, beneficiadas com valores médios mensais de R$ 210.
Em tese, os programas de acolhimento exigem a permanência de filhos menores de 14 anos nas escolas e o acompanhamento de gestantes no período pré-natal como forma de garantir o subsídio às famílias. Na teoria, também, essas pessoas têm como única fonte de renda o auxílio do governo. Sem ele, sabe-se lá como fariam para sobreviver. O que se questiona, e esse sempre foi o mote da oposição, é que o programa não tem controle rigoroso no cadastro e que muitas famílias são beneficiadas sem necessidade.
Reportagem publicada no domingo passado por este jornal mostra que, apenas em Mogi das Cruzes, 46 mil pessoas estão cadastradas para receber benefícios do governo no Bolsa Família, Renda Cidadã, Ação Jovem e Amigo Idoso. Considerando o levantamento mais recente do IBGE, de 2018, para uma população estimada de 440 mil habitantes, a proporção corresponde a 10,4% do total, ou seja, uma a cada dez pessoas leva um quinhão do governo.
Por outro lado, matéria publicada pela Folha de S.Paulo ontem revela que o governo de João Doria (PSDB) possui mais de
R$ 1 bilhão em verbas represadas para o combate à pobreza. Os programas que podem ser incrementados são o Viva Leite e o Bom Prato. Em resumo, por mais que os programas tenham conotação política, verba para sustentá-los existe. Em ano eleitoral, certamente o subsídio vai continuar. E o questionamento político também.