A discussão sobre a regulamentação da atividade do flanelinha em Mogi das Cruzes beira a incongruência. Há, certamente, bem delineados, dois lados da questão. O primeiro diz respeito à prestação de um serviço que passou a ser comum nos grandes centros, cujo volume de carros ultrapassa o do número de vagas para estacionamento. Esse primeiro grupo também leva em consideração a realidade de um país com o crescente trabalho informal, que absorve um contingente imenso de pessoas desempregadas.
O segundo lado, mais abrangente e subjetivo, é o caráter social do problema. Legalizar caminha no sentido contrário à evolução natural da sociedade. Não há razão sensata para a perpetuação de uma atividade oriunda de uma brecha na economia cambaleante do país. Difícil, porém, é rejeitar uma tendência que já foi sacramentada, por exemplo, na cidade de São Paulo.
A Câmara de Mogi deu contornos mais assistencialistas ao problema, quando decidiu criar uma Comissão Especial de Vereadores (CEV) dos Guardadores de Veículos para discutir o assunto. Na quarta-feira passada, inclusive, uma reunião foi agendada com os secretários de Segurança e de Desenvolvimento para angariar informações sobre a eventual profissionalização do flanelinha. Ao que parece, as autoridades têm plena consciência de que é preciso definir, antes, uma série de fatores correlatos, como local de atuação, quem estaria habilitado a exercer o trabalho e as premissas de segurança para o cliente, no caso os motoristas.
O que não parece claro com a iniciativa em Mogi é o real objetivo da proposta. Se há a necessidade de se regulamentar uma atividade inquestionável, que possa atender a demanda de pessoas desempregadas ao mesmo tempo em que se organize os limites da atuação, sem ferir espaço alheio, renda e tributação, é preciso também inserir a discussão dentro de um contexto político. A dúvida reside em duas perguntas: será que é o momento oportuno para se debater o assunto? Existem outras prioridades a serem tratadas no município? Essas respostas devem ser dadas pelos envolvidos.