Região - Quem não parou durante a pandemia de coronavírus (Covid-19) soube da demanda e da importância dos motoristas de aplicativo, que foram um dos setores que não pararam diante das medidas de distanciamento social e lockdown. Mas, com a volta gradual das atividades mediante o recuo dos casos e internações, novos desafios começaram a surgir.
Passageiros que dependem do uso dos motoristas de aplicativo passaram a sentir, nos últimos meses, um crescimento na dificuldade em conseguir por meio de aplicativos como "Uber" e "99" uma corrida. Em alguns casos, são necessárias diversas tentativas para confirmação de um motorista disponível.
Segundo a Associação de Motoristas por Aplicativo do Alto Tietê (Amarati), mais de 9 mil motoristas de aplicativo circulam diariamente no Alto Tietê, sendo 1,5 mil deles apenas em Mogi das Cruzes. O número, segundo o presidente Maicon Silva, aumentou durante a pandemia, como uma opção de renda.
Sobre o número de cancelamentos, Silva avaliou que uma fatores devem ser levados em consideração - sendo um deles o custo-benefício da corrida, que fica a critério do motorista. "Hoje o motorista tem a condição de escolher, o que antes ele não podia fazer, pois antigamente as plataformas puniam severamente os abandonos. Se entre o chamado feito no aplicativo e o comparecimento ao local ele encontrar uma corrida que o remunere melhor, ele pode aceitar", explica.
Isso também acontece por conta dos repasses das plataformas aos motoristas. Um dos pontos seria o uso de promoções com tarifas reduzidas aos usuários, que teriam os custos repassados diretamente aos motoristas, e não seriam amortizados pelos administradores. "A questão é que a plataforma não paga de forma decente aos motoristas, os ganhos caem constantemente, direta ou indiretamente. O problema não é apenas a gasolina, mas também o pagamento irrisório, e o ganho que não vem para a gente", aponta Ivan Rios, 31 anos, motorista de aplicativo em tempo integral há três anos.
A falta de segurança também é citada como um ponto sensível para a dinâmica. Além da falta de informações prévias para os motoristas, incidentes recorrentes entre passageiros e motoristas também acabaram gerando problemas para quem depende das corridas para ter uma renda. "Você acaba sendo refém da situação. Já fui agredido por um passageiro, mas não tive nenhum respaldo da plataforma. Muitos passageiros acabam abusando da disposição dos motoristas - de cada dez, sete já causaram problemas", contou Rios.
Segundo o presidente da Amarati, a jornada de trabalho de um motorista de aplicativo tem aumentado nos últimos anos, hoje chegando a até 15 horas, sendo em alguns casos turnos de até 18 horas. "Ele não vai deixar de ganhar o dinheiro por conta dos custos com o combustível, alimentação, seguro do carro, manutenção. A economia ainda não retomou, e não sabemos quanto tempo vai levar para que estes profissionais voltem a ser absorvidos. Enquanto isso não acontece, ele segue rodando, mesmo que o custo aumente e a remuneração abaixe", concluiu.