Diretor da Faculdade Paulo VI, filósofo e teólogo, licenciado em Ciências da Religião, mestre e doutor em Teologia Bíblica, o padre Cláudio Francisco de Oliveira explica que os cursos mantidos pela Igreja já não são mais quase exclusividade dos futuros sacerdotes. "Temos muitos alunos, católicos ou não, formados em outras áreas", resumiu. Ele considera que "a pandemia levou muitos a se aproximarem da busca de uma fé mais intelectualizada e por um maior autoconhecimento".
A Faculdade Paulo VI, ligada à Diocese de Mogi das Cruzes, com regular atuação junto ao próprio Vaticano e ao Ministério da Educação, existe há aproximadamente meio século. Antes voltada com exclusividade à formação do clero, tem há algum tempo suas portas abertas a qualquer interessado.
Em entrevista, o padre Cláudio falou da instituição que dirige, da qualificação do corpo docente, dos projetos de internacionalização e parcerias com outras instituições de ensino.
P- O que está sendo feito para divulgar a instituição?
R- Todo padre, aqui e em outros lugares do mundo, passa por uma formação densa. Antes da ordenação, obrigatoriamente, nos bacharelamos em Filosofia e em Teologia. E o lugar dessas ciências não é só de fora para dentro, dos livros para a Igreja, mas, também, de dentro para fora, da Igreja para a comunidade. Uma igreja, seja ela de qual denominação for, não é formada só por seus padres ou pastores, mas também por seus fiéis, pelo rebanho. E essa é a razão da abertura dos cursos da Paulo VI para todos os interessados. Em nossas salas contamos, além daqueles que se preparam para o sacerdócio na Igreja católica, muitos que são fiéis ou pastores das mais diversas denominações e, também, muitos portadores de diploma superior, que ali estão para ter respostas às suas inquietações intelectuais e espirituais.
P- Existe, então, mesmo para o curso de Teologia, a possibilidade de frequência por quem não seja católico?
R- Claro. E a troca é importantíssima. Somos todos irmãos perante Jesus Cristo. Evidente que existem algumas disciplinas, como Mariologia ou Liturgia, que não têm reflexos práticos aos irmãos evangélicos, mas mesmo a eles, sem dúvida, presente o reconhecimento da importância do estudo dessas disciplinas, tanto para entender as divisões que se deram na fé cristã ao longo da história com, por exemplo, Martinho Lutero e João Calvino, como para enriquecimento cultural.
P- E o corpo docente da faculdade? Todos são padres?
R- Não. Contamos com professores que são sacerdotes e com outros que não. Em comum somente a qualificação. Nosso corpo docente, quase todo, é composto por mestres e doutores com experiência e formação, menos ou mais longa, no exterior. Antes da pandemia alguns dos nossos alunos estendia seus estudos em Roma, Madri, mas era, aí sim, uma exclusividade dos futuros sacerdotes porque às expensas da Igreja.
P- E o diálogo filosófico e teológico com outros saberes?
R- É total. Repito, contamos em sala de aula, como alunos, com diversos saberes. Temos em ambos os cursos advogados, jornalistas, psicólogos, biólogos, profissionais da saúde, enfim, as discussões levantadas, as perspectivas distintas, a todos enriquece mutuamente. Esse pluralismo, essas portas abertas, inclusive é fomentada por dom Pedro Luiz Stringhini, nosso bispo diocesano e chanceler.
P- E o perfil dos alunos?
R- Em sala, como disse, temos aqueles que aspiram o sacerdócio. Eles moram nos seminários, ali se dedicam a outros estudos e práticas necessárias para suas formações, e estudam na Paulo VI. Encerrada a aula, voltam ao seminário ou às paróquias em que já estejam colaborando. Contamos também com aqueles que, evangélicos, querem se aprofundar na palavra para poderem melhorar suas pregações e entendimento. E temos os leigos, católicos ou não, já estabilizados, que decidiram se debruçar sobre questões mais elevadas que são objeto da Filosofia e da Teologia.
P- Por fim, para quem não quer ter vida religiosa, qual benefício de estudar Filosofia ou Teologia? São cursos que seguem atuais?
R- Mais atuais do que nunca. Essa pós-modernidade, em que tudo é efêmero e fugaz, esse momento em que muitos passam por um vazio existencial, denuncia não só a atualidade, mas até a necessidade. E os benefícios? Enormes. A importância da Filosofia e a dependência da escola de pensamento comporta diversas respostas. E a importância da Teologia, uma filosofia aplicada, busca nos aproximar d'Ele e compreender seu projeto de salvação para cada um de nós, ajuda-nos a encontrar o sentido da nossa existência como criaturas. A vida é mais do que ter. A vida é mais do que matéria. A vida é mais do que existir.