Os reflexos da quarentena causada pelo coronavírus (Covid-19) para os produtores rurais são significativos. Se não bastasse a redução de 40% nas vendas para a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) e de 80% para bares e restaurantes, os agricultores de Mogi das Cruzes tiveram que se desfazer de toneladas de produtos que não puderam ser escoados. Há três semanas com a produção encalhada, dezenas de agricultores enterraram suas produções as transformando em adubo. Era o máximo que era possível extrair dos itens, uma vez que estes não seriam comercializados.
"Hoje temos muita incerteza. Nossa maior dúvida é se vamos plantar para o inverno ou não. Pode ser que melhore a situação, com a reabertura dos restaurantes e a gente não tenha os produtos, ou pode ser que se mantenha da mesma forma e a gente tenha que jogar fora", explicou a engenheira agrônoma do Sindicato Rural de Mogi das Cruzes, Juliana Monteiro.
De acordo com reportagem da Folha de S. Paulo do último domingo, tratores destruíram toneladas de alface, rúcula, agrião e outros tipos de verduras e temperos em áreas produtoras do distrito de Jundiapeba.
Considerando como "inevitável" o descarte de alimentos com a queda na venda, o produtor Fábio Sussumu Hagio estima um prejuízo de R$ 50 mil. Há 12 anos produzindo almeirão, alface, agrião e rúcula - folhosas com menor percentual de venda durante a pandemia - o produtor disse que 70% de sua produção teve de ser jogada fora. "Os feirantes pararam, o setor industrial diminuiu muito. Dos 10 mil maços por semana que eu vendia, na semana da paralisação eu vendi 1,5 mil. Nosso clientes pararam de pegar e a gente tinha muito (produto)", disse.
Ainda como agravante desta situação, o período de produção das folhosas vai até meados deste mês, próxima à época do início da paralisação.
A Prefeitura de Mogi das Cruzes se diz ciente do desperdício de alimentos e afirma estudar estratégias para auxiliar o escoamento. "Estamos pensando em alternativas como o cumprimento das medidas do governo federal com o uso do PNAE - Programa Nacional de Alimentação Escolar para ajudar o agricultor familiar. Estamos também trabalhando junto ao governo estadual, solicitando a reabertura de gardens e floriculturas para que os produtores de flores possam escoar sua produção e com o governo federal estamos pleiteando a prorrogação de prazo de dívidas de financiamentos já adquiridos e uma linha de crédito com juro reduzido".
Doações
Alternativas começam a aparecer com o intuito de minimizar perdas. São 12 produtores do distrito de Quatinga que se organizaram e estão pedindo doações para que seus produtos, que seriam descartados, sejam destinados a entidades e famílias carentes.
Os produtores se disponibilizaram a doar quatro toneladas por semana até agosto, sendo que o arrecadado será destinado para cobrir os gastos de transportes.