"Ô ô ô ô - Guarda-Chuva, este samba é teu, Guarda-Chuva tu és a majestade dos carnavais da nossa cidade". Este trecho da composição feita pela Acadêmicos da São João, em 1975, presta homenagem ao homem que tem sua história de vida confundida com a do Carnaval mogiano. Quem transita pela rua João Benegas Ortiz, no Jardim Rodeio, talvez nem saiba quem foi o homem que dá o nome para umas das principais vias do bairro. Ortiz, além de comerciante, foi um dos principais nomes da festa mais popular do país aqui na cidade. Foi durante 40 anos o único Rei Momo do nosso Carnaval.
Ortiz nasceu em Mogi das Cruzes, na década de 1920, onde, catorze anos depois começou a frequentar os blocos carnavalescos ao lado de seu antecessor, de nome Genésio, Rei Momo da época. O rapaz, que misteriosamente sumiu após um assalto ao trem do subúrbio da antiga Central do Brasil, em 1950, abriu o caminho para que João Ortiz tomasse o posto de Rei Momo da cidade.
Foram 39 anos ininterruptos no cargo de realeza da corte do Carnaval da cidade. Com exceção da edição de 1967, por conta da morte de sua mãe, João Guarda-Chuva, como era conhecido, deixou de desfilar.
Segundo Roberto Bordin, escritor e autor de livros sobre grandes personalidades de Mogi, a entrada de Ortiz na realeza do Carnaval foi por acaso. "João era comerciante, possuía dois restaurantes, um na cidade e outro na capital paulista. Ele, como era um homem de 100 quilos, se tornou a pessoa ideal para ocupar o posto de Rei Momo no lugar de Genésio, que sumiu após o assalto ao trem. Porém, a condição de que ele participasse era de tirar o bigode que tinha. Aceitou a exigência e nunca mais parou". Tanto que Ortiz foi o Rei Momo com mais tempo de atividade do Brasil. "A paixão que ele tinha pelo Carnaval fez com que ele superasse várias barreiras. João, pelo peso que tinha, acumulou várias doenças ao longo de sua vida, porém, isso não o impediu de que participasse de tantas edições da festa". Comentou Bordin.
Em 1990, uma peça do destino impediu que o velho rei recebesse a chave da cidade das mãos do então prefeito Waldemar Costa Filho, como desejava. Ortiz acabou morrendo enquanto dormia, na véspera do Carnaval daquele ano, vítima de complicações de diabetes.
Após sua morte, o trono ficou vazio, porém, o carnaval teria de continuar, como João Guarda-Chuva queria que acontecesse. Coube então ao seu filho Eurico receber as chaves da cidade no lugar do pai, além de um cartão de prata, uma homenagem póstuma ao Rei Momo de tantos anos. Outro filho de João, Edson, chegou a assumir o trono, mas saiu por entender que não tinha o mesmo carisma e apreço pela festa que seu pai.
O escritor Bordin, que atualmente está produzindo um livro dedicado ao Carnaval mogiano e terá com um capítulo exclusivo a Ortiz, conta que após a sua morte, o tradicional Carnaval de Mogi não foi igual. "Embora exista algumas festas no período, como o bloco do Vai Quem Quer, não ter um representante da grandeza de Ortiz faz falta. Tivemos várias pessoas que assumiram o trono depois, mas por pouco tempo. Em especial, em homenagem aos 100 anos de imigração japonesa, um Rei Momo oriental desfilou na avenida. Hoje estamos há dois anos sem um rei no nosso Carnaval".
*Texto supervisionado pelo editor.