Tamarozi ficou em silêncio, mas percebia-se que sua mente estava fervilhando, organizando a resposta mais adequada. Passaram-se mais de cinco segundos, uns sete, talvez, e ele reforçou, quem sabe para ganhar tempo ou quebrar o gelo: "Boa pergunta". O enxadrista não teve pressa nenhuma para responder o seguinte questionamento: "O que te fez se apaixonar pelo xadrez?" A impressão era de que Tamarozi estava realmente pensando como em uma partida de xadrez. Matutando qual peça movimentar.
"Talvez tenha sido porque eu sempre gostei muito de esportes; jogava de tudo um pouco e gostava de jogos de tabuleiro. Só que o xadrez era, para mim, diferente de todos: o xadrez é desafiante. É a sua mente contra a mente do adversário. É fascinante. O tabuleiro é o resultado do que está aqui (diz apontando a lateral esquerda da cabeça - acima da orelha). E quando você perde, você aprende com o adversário. As pessoas não têm ideia, mas uma das coisas que o xadrez faz com o praticante é prepará-lo fisicamente. É preciso fazer caminhada, corrida, natação. Isso faz a mente ficar bem. Então, o condicionamento físico está ligado ao desempenho mental", complementou.
Dos dois filhos, apenas Isabelle seguiu "carreira" no esporte. Hoje, ela é a 5ª no ranking brasileiro de xadrez. Recentemente, participou de uma competição em Nova Deli, na Índia. Uma viagem concretizada às custas de uma "vaquinha" na internet, já que é a própria enxadrista que tem de arcar com gastos nas viagens. "Ela já disputou tudo o que tinha para disputar. O custo é elevado para viajar e tudo mais. Ela já disputou partidas que duraram seis horas", explicou.
Tamarozi sempre esteve ao lado da filha. Pode-se afirmar sem medo de errar que ele é o principal apoiador da garota no esporte. "Quando ela era pequena a coisa era bem lúdica mesmo. Ela jogava uma rodada e depois eu a levava para brincar no parquinho. Em seguida, surgia outra rodada e a levava para jogar. Para ela, até então, tudo aquilo era uma brincadeira. Nunca a forcei. Ela sempre gostou. Aliás, ela sempre conciliou tudo. No ano que vem, a Isabelle se forma em Matemática Aplicada na USP. Passou em sétimo lugar. Meu filho também participou, digamos, de todo o ciclo do xadrez, mas hoje ele não joga mais profissionalmente", finalizou.
O xadrez, acima de tudo, entrou na família como uma ferramenta de evolução pessoal. No caso dos filhos, o microempresário explica que a prática os ajudou a se concentrarem melhor e, principalmente, os auxiliaram na questão de tomada de decisões. "Por isso que, quando eles (filhos) faziam simulados no colégio e o professor dizia "vocês têm quatro horas para resolver", eles seguiam tranquilamente e os demais alunos, já com uma hora de prova, estavam bem cansados. O atleta de alto rendimento precisa estudar muito antes de uma competição. O xadrez é muito mais estudo do que jogo. É necessário estudar os fundamentos do xadrez. As variantes do xadrez são infinitas, mas os fundamentos são estudáveis e é aí onde a pessoa tem de se dedicar, fazer centenas de exercícios por dia, demanda um preparo muito grande", detalhou.