O microempresário Cláudio Tamarozi tem uma rotina bem corrida. Trabalha de segunda a sábado e, às sextas-feiras, à noite, se dedica ao Clube de Xadrez de Mogi das Cruzes até altas horas. Na livraria, que ele fundou há 29 anos, além dos compromissos diários com fornecedores, clientes e com as contas a pagar, Tamarozi ainda se dedica a mais uma atividade: atender as pessoas na posição de conselheiro.
"É um dom que eu tenho. Faço isso há uns 30 anos. É poder ouvir, discernir e ajudar as pessoas. É algo pastoral. Eu não tenho placa, não tenho nada, mas às vezes as pessoas chegam aqui na loja e começam a falar as coisas. Dai eu trago aqui na sala para conversar", explicou.
Os atendimentos ocorrem na sala do microempresário, em um sofá que, nestes momentos de "consulta" se torna um confessionário. "Já chegou gente aqui dizendo que ia se matar e eu consegui reverter. Eu, na verdade, falo muito pouco e deixo a pessoa falar mais. Eu sou um discípulo de Jesus. Tem a ver com relacionamento, não tem a ver com dogma, não tem a ver com uma religião. É simples assim. Talvez esteja ligado ao xadrez porque para mim tudo acaba sendo a mesma coisa. Por exemplo, o xadrez só é bacana para mim porque eu consigo atrelar a questão social nisso tudo. Tem gente que chega com pânico, por exemplo, lá no xadrez e vai aprendendo. A gente também levanta alimentos para instituições, então, são trabalhos sociais", disse.
Em meados de 2007, Tamarozi perdeu a visão por conta de um descolamento de retina. Ficou totalmente cego durante dois anos. Os médicos não lhe davam muitas esperanças de que pudesse voltar a enxergar e, além disso, o caso dele - descolamento de duas retinas - era raríssimo. No entanto, após tratamento, a visão foi restabelecida. 
"Minha vida virou de ponta-cabeça. Isso que deu um start na minha vida. Eu tinha 39 anos. Fiquei piradão. Quando eu era mais novo, esta questão da vocação, para ouvir as pessoas, já estava em mim, mas por conta de religiões, talvez eu me anestesiei e você deixa de ver o que é real. Fiquei recluso, deprimido. E foram nestes momentos que eu consegui, mesmo sem ver, enxergar mais a vida. Foi aí que as coisas começaram a acontecer. E não havia muita esperança de voltar a enxergar. Mas foi bom para mim, foi aí que eu aprendi muita coisa. Eu amo as pessoas. Nós somos terrenos sagrados", finalizou.