Um dos geólogos mais respeitados do Brasil, autor de relevantes obras literárias sobre a ciência que estuda as estruturas do planeta, Álvaro Rodrigues dos Santos, de 77 anos, afirmou de forma categórica, durante entrevista ao Mogi News, que a rodovia Mogi-Bertioga (SP-98), do ponto de vista de como foi concebida - sem respeitar a suscetibilidade a deslizamentos naturais das encostas - não tem mais salvação.
Além da análise nada animadora para quem utiliza com frequência o caminho que corta a serra do Mar, ligando Mogi das Cruzes a Bertioga, e que já foi secretário de Desenvolvimento no governo do ex-prefeito Junji Abe (MDB), o geólogo prevê a ocorrência de novos deslizamentos nos trechos mais críticos da estrada. "A cada estação chuvosa a probabilidade de ocorrência de novos deslizamentos, em novos locais ou em locais onde já tenha ocorrido algum problema, é muito grande. O preço dos erros cometidos na abertura da rodovia será um eterno castigo para seus usuários, os quais, diga-se de passagem, não tiveram a mínima responsabilidade no fato", criticou.
Por outro lado, segundo ele, talvez de forma paliativa, há uma gota de esperança caso haja um forte empenho em submeter os pontos críticos da rodovia a eficientes projetos de consolidação geotécnica; a única forma de resguardar a Mogi-Bertioga. "Mas essa será uma operação caríssima. É bom ter ciência disso. E mesmo assim nunca trará uma total confiabilidade à rodovia. A serra do Mar apresenta encostas com uma enorme suscetibilidade a deslizamentos naturais, em especial nas estações mais chuvosas. O homem, com desmatamentos ou obras, sabidamente potencializa a ocorrência desses deslizamentos. A abertura da rodovia Mogi-Bertioga desconsiderou totalmente essa lei da serra do Mar e adotou uma concepção de projeto baseada em cortes nas encostas para o encaixe da plataforma viária, o que constituiu uma verdadeira temeridade do ponto de vista geológico. Ao contrário, a engenharia rodoviária brasileira, especialmente após a abertura da rodovia dos Imigrantes, deu um salto de qualidade na concepção de projetos viários na serra do Mar, justamente optando por túneis e viadutos de forma a tocar o quanto menos possível nas instáveis encostas da serra", explicou.
Recentemente, o governo estadual lançou um lote de concessão de rodovias que dão acesso ao litoral paulista e a rodovia Mogi-Bertioga, que está dentro deste pacote, também receberá intervenções ao longo de sua extensão. Na opinião do geólogo, o conjunto de obras, da maneira como foi apresentada, trata-se de uma armadilha para os mogianos e usuários da estrada.
"Aliás, na verdade, para a consolidação da atual pista da Mogi-Bertioga e para sua duplicação - que deveria não cometer os erros da primeira pista e desenvolver especialmente por túneis e viadutos - não há nada de concreto no pacote. Quanto a outras obras de melhorias viárias citadas, são jogadas para as calendas, ou seja, para datas muito distantes. A única intervenção que ocorreria mais rapidamente é o pedágio da Mogi-Dutra. O qual, a meu ver, é o único objetivo concreto do pacote, sendo o restante um grupo de vãs promessas 'para adoçar o mingau'", detalhou.
Diante da crítica, o geólogo dá uma sugestão aos mogianos: "Resistam a esse pacote apresentado e produzam um 'pacote alternativo' baseado no atendimento do que entendam como suas reivindicações prioritárias no que diz respeito às rodovias de interesse do município", indicou.