Ao trafegar pela Marginal do Tietê, na capital, é inevitável não refletir sobre um dos rios mais importantes do Estado de São Paulo: o Tietê. O cheiro forte da poluição e diversos resíduos descartados diretamente no rio o tornam completamente impróprio para o uso, no entanto, esse cenário, que parece ter início apenas no trecho da capital, está longe de ser verdade.
Da área urbanizada em Biritiba Mirim, cidade vizinha de Salesópolis, onde está localizada a nascente do rio, até chegar em Itaquaquecetuba, o Tietê vai perdendo oxigênio e acaba "morrendo". É dessa maneira que define o biólogo e educador ambiental da Fundação SOS Mata Atlântica, Cesar Pegoraro.
Apesar de não ser classificado como um dos rios mais bonitos do Estado, hoje, o dia é voltado especialmente a ele, para a realização de ações educativas e sociais sobre sua importância para a sociedade. "Vemos várias práticas acontecendo próximas ao rio Tietê, desde pesca, água para irrigação e encontramos uma relação amistosa de barcos, pessoas à margem do rio, mostrando que ele tem ainda uma saúde que permite esses usos múltiplos. Mas quando chegamos no centro urbano de Biritiba, vemos impactos maiores e, já em Mogi, o impacto é relativamente grande. Então, pouco a pouco, ele vai perdendo essa característica e quando chega em Itaquá é um rio comprometido", explicou Pegoraro.
Se comparado com outros rios brasileiros, o Tietê termina no interior do Estado, e não no oceano, como normalmente ocorre com outros cursos de água. Para se ter uma ideia, a nascente, em Salesópolis, está a 1.120 metros de altitude da Serra do Mar e pela localização do rio, ele foi utilizado pelos índios e bandeirantes para acessarem os diversos caminhos ao longo do percurso.
"É uma questão cultural não só da população, mas do Poder Público também. Achamos muitas vezes que a água está ali para nos atender, mas se não tivermos uma estrutura que cuide dos nossos resíduos, não vamos conseguir sair dessa situação", afirmou o biólogo.
De acordo com o levantamento divulgado pela SOS Mata Atlântica nesta semana, por meio do relatório Observando o Tietê - 2019, das cidades do Alto Tietê por onde o rio passa, em nenhuma delas a qualidade da água é considerada boa. Em Arujá, Biritiba Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Mogi das Cruzes e Suzano há pontos que estão em situação regular.
O que mais preocupa é que nestas mesmas cidades há cinco pontos de medição onde foi constatada a qualidade ruim. A SOS Mata Atlântica também alerta que o trecho morto do rio alcançou a marca de 163 quilômetros este ano, um aumento de 33,6% em relação ao ano passado, quando o trecho era de 122 quilômetros.
Ainda hoje, o secretário de Estado do Meio Ambiente, Marcos Penido, estará em Salesópolis para assinar a autorização para o início dos estudos que irão apontar as possibilidades de compensação financeira aos municípios produtores de água. O assunto é debatido pelo Consórcio de Desenvolvimento dos Municípios do Alto Tietê (Condemat) há alguns meses, já que o Alto Tietê se encaixa nessa situação.