"Todo o teatro de mamulengo é um teatro de boneco, mas nem todo teatro de boneco é mamulengo", explica o pernambucano Valdeck de Garanhuns, especialista nesta arte que, desde março de 2015, é considerada patrimônio imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Nacional Histórico e Artístico (Iphan). São diferentes nomes no Nordeste do País: Babau (Paraíba), João Redondo (Rio Grande do Norte) e Casimiro Coco (Ceará).
Esta arte popular, com suas nuances próprias, como a música ao vivo, pancadarias, picardias e conotações sociais, será o destaque deste sábado, às 20 horas, em Poá, com a apresentação "Mamulengo no Cinema", criada por Valdeck há mais de dez anos.
A praça Afonso Carlos Fernandes, em frente ao Espaço Cultural Opereta, receberá a "brincadeira", como Valdeck nomeia seus espetáculos, integrando uma festa junina fora de época, dentro da programação do IV Festival de Arte Popular do Alto Tietê. O evento, que também terá barracas de comidas típicas, começa às 18h30 com a intervenção de dança contemporânea de Gabriela Manucci; segue com o show "Amarantos", e depois com Valdeck. O Trio Tropeiros da Serra encerrará a noite. As atrações são gratuitas. Mais informações sobre o festival no site www.malungadapc.com.
O "Mamulengo no Cinema", segundo o artista, é um incentivo ao cinema brasileiro. "Um gringo consegue, com a Lei Rouanet e o favorecimento de estatais, dinheiro para fazer um filme que ele diz ser sério, mas no fundo não é. É uma crítica às pessoas que não precisam do dinheiro público, mas conseguem através de conchavos, corrupção, enquanto há muitos produtores com assuntos nacionais e da cultura popular que precisam", explica Valdeck, que tem um repertório de cerca de 15 espetáculos, em seus 25 anos de carreira. "Cada vez que crio uma brincadeira, penso no contexto social, para que as pessoas que assistam não só se divirtam, mas possam discernir, raciocinar sobre a estrutura socioeconômica, a cultura e arte".
Guararema
Mais cedo, às 16 horas de amanhã, Valdeck participará de um bate-papo na Casa da Memória Antonia Guilherme Franco, localizada na rua Laurinda, 138, no centro de Guararema, como parte da programação da exposição "Teatro Popular de Bonecos do Brasil", em cartaz no local até o dia 15 de maio. O funcionamento é de quarta a sexta-feira, das 10 às 13 horas e das 15 às 18 horas, e aos sábados, domingos e feriados, das 13 às 18 horas. A entrada é gratuita.
A mostra reúne 120 peças, parte do acervo do artista e de sua mulher Regina Drozina, que são os curadores do evento, como também do "mamulengueiro" Danilo Cavalcante, além de vídeos. Em destaque, instrumentos como sanfona e triângulo, além de raridades como um boneco de 110 anos. Para dar vida a exposição, estão programados eventos na Praça do Coreto, próximo à Casa da Memória. Palestras também serão realizadas com professores sobre a importância criativa e pedagógica do teatro de bonecos. "Essa exposição é um piloto. Estamos pleiteando realizá-la no Sesc com mais de 1.500 bonecos", revela Valdeck.