O jornalista americano Truman Capote, autor do livro-reportagem "A Sangue Frio", tinha um estilo diferente de apuração. Ele não recorria aos elementos mais utilizados pelos colegas de profissão, como papel, caneta e gravador, para registrar as entrevistas. Preferia conversar com as pessoas, deixando-as livres para compartilhar o que sentissem vontade. Esta é uma característica que o fotógrafo mogiano e também jornalista Pedro Chavedar adotou para dar vida ao projeto Humans of Mogi, que foi criado há três meses e tem como principal finalidade dar voz, por meio de fotos e textos, para a história de vida de pessoas anônimas. Os relatos são postados na página de mesmo nome no Facebook e Instagram.
Inspirado no projeto Humans of New York, criado há seis anos pelo fotógrafo americano Brandon Stanton, a iniciativa mogiana já registrou histórias de moradores de rua, jogadores de futebol de várzea e de basquete, engraxates, barbeiros e de alunos da Escola Estadual Francisco de Souza Melo, a única que foi ocupada em Mogi, no ano passado, contra a reorganização escolar proposta pelo governador Geraldo Alckmin. "As pessoas não precisam ser necessariamente nascidas na cidade para ter a sua história contada. Elas podem estar de passagem. Além disso, não há nenhum tipo de distinção, seja por raça, credo, classe social. Todos têm algo a dizer", comenta.
De acordo com Chavedar, que é um dos fundadores do coletivo de fotógrafos Everyday Mogi, a ideia de criar o Humans of Mogi surgiu da necessidade de mostrar que as pessoas têm fatos interessantes para dividir. "Como de uns tempos para cá comecei a falar ainda mais com as pessoas na rua, principalmente com os moradores de rua do largo Bom Jesus, senti vontade de ouvir e dar voz ao que eles têm a dizer, por exemplo. Tenho a sensação de que as pessoas falam muito e escutam pouco. Para aprender com os outros, precisamos estar abertos para ouvir", acredita.
Para o fotógrafo, a maior parte das pessoas atrela a falta de tempo para ouvir o próximo por conta da rapidez do dia a dia. "Para saber o que alguém tem a dizer e contar é preciso estar disposto. Só assim há a possibilidade de descobrir uma boa história. Importante também é mostrar que a pessoa pode confiar em você. Uma história que estou para contar é a do Val, que é um morador de rua e conta a sua vida aos poucos", compartilha o jornalista, que destaca a interligação do Humans of Mogi com o Everyday Mogi, composto também pelos fotógrafos Warley Leite, Nicholas Chavedar, Alex Tavares e Guilherme Silva.