No início dos anos 1930, o Brasil vivia a Era Vargas, e, em meio a um surto de lepra, nome pelo qual a hanseníase era conhecida, o governo optou pela segregação compulsória dos doentes e de suas famílias. No Estado de São Paulo foram criados, como prevenção dessa enfermidade, asilos-colônia para os doentes. Em Mogi, o hospital Dr. Arnaldo Pezzutti Cavalcanti foi um deles. Estes locais eram divididos entre dispensários - onde eram realizados exames de pessoas com sintomas suspeitos, e os preventórios, destinados aos filhos saudáveis de pais com a doença.
Com base em pesquisas históricas, depoimentos de ex-internos destes preventórios e relatos pessoais dos atores, o grupo 4NARUAÉ8, de Jacareí, no Vale do Paraíba,  criou o espetáculo "Má Pele", que será encenado amanhã e na próxima sexta-feira, dia 11, às 20 horas, na Sala Wilma Ramos, do Centro Cultural de Mogi das Cruzes, que fica na praça Monsenhor Roque Pinto de Barros, 360, centro. A entrada é gratuita, e a classificação, 12 anos.
"Estávamos pesquisando para um outro projeto no arquivo público de Jacareí, e eles haviam encontrado as fichas de crianças que ficaram no preventório da cidade. Entramos em contato com este material e decidimos que ele merecia um projeto específico. Era uma prática do Estado separar as crianças saudáveis de pais doentes por meio do Departamento de Profilaxia da Lepra. Poucas crianças sabiam o que estava acontecendo", conta o ator Juliano Mazzuchini, que integra o elenco juntamente com Lucila Andreozzi, Miguel Ramos e Camila Florentino. A direção é de Edgar Castro.
No palco, o encontro da trajetória de quatro crianças internas do preventório, todas filhas de pais doentes e internadas compulsoriamente pelo governo no começo do século XIX. Através dessas histórias, o público passa a conhecer os estigmas dessa doença e a luta dos filhos não infectados, mas forçados a viver longe de seus familiares, em busca desses relacionamentos perdidos e de sua própria identidade. "Queremos discutir a segregação institucionalizada praticada pelo Estado, e mesmo depois do fim do preventório em Jacareí, o prédio foi usado pela Febem e orfanato. Antes as doenças eram de ordem patológica, hoje os prédios abrigam doenças sociais", analisa o ator.
Oficina
Na próxima quinta-feira, dia 10, o grupo teatral promove o workshop "Estética das Memórias", das 9 às 15 horas, também no Centro Cultural mogiano. A entrada é gratuita para pessoas a partir de 14 anos. As inscrições vão até o dia 9 de dezembro, através do e-mail [email protected].
Os interessados devem colocar como assunto "Workshop 4NARUAÉ8 - 10/12", contendo na mensagem os seguintes dados: nome completo, endereço, telefone e data de nascimento. "A ideia é trabalhar com as memórias, sejam elas pessoais ou da própria comunidade. Vamos trabalhar as memórias esteticamente voltadas para o teatro", conclui Juliano.