O Instituto Resiliência Azul, organização sem fins lucrativos que oferece acolhimento a famílias atípicas — especialmente mães de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) — conquistou sua sede. Em fase final de instalação, o espaço fica na rua Ipiranga, 83, no centro de Mogi das Cruzes. Segundo a ONG, a nova estrutura permite ampliar os atendimentos, promover eventos - como oficinas e rodas de conversa - e manter um bazar beneficente permanente.
A conquista da sede é um marco para o Instituto, que até então operava em espaços cedidos e na casa da idealizadora e diretora, Diiva Battista, na Vila Lavínia, também em Mogi. Segundo ela, estar em um endereço fixo, acessível e no centro da cidade ajudará o instituto a ampliar o alcance do trabalho e acolher melhor as famílias. Atualmente, o Resiliência Azul atende diretamente cerca de 200 pessoas com projetos sociais, além de impactar uma rede com cerca de 700 membros.
Fundado em 2019, o instituto nasceu da experiência pessoal de Diiva, mãe de um adolescente autista, que motivada pela falta de políticas públicas e no preconceito social criou uma rede de suporte e conscientização. “Foi através da dor de ficarmos sempre escondidos. A deficiência oculta pode ser muito triste porque as pessoas não veem. E quando a mãe tenta lutar, acaba sendo julgada”, explica. "O nome não vem a toa, foi realmente preciso muita resiliência na minha história, assim como de tantas outras famílias", acrescenta.
Diiva explica que famílias atípicas são aquelas que convivem com deficiências ou condições neurodivergentes — como o autismo, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e condições que podem ser "menos visíveis" e frequentemente não recebem o apoio necessário do poder público. Ela acrescenta que muitas dessas famílias enfrentam sobrecarga emocional, exclusão social e dificuldades financeiras, especialmente as mães, que são as principais cuidadoras.
Com parcerias diversas, como o projeto ASMARA, da Gerando Falcões, o instituto oferece apoio jurídico, emocional, e conecta as famílias com profissionais de saúde. Também promove o acesso a tratamentos alternativos, como terapias com cannabis, e firmou parcerias com convênios médicos e farmácias de manipulação. De acordo com Diiva, o bazar, além de ser uma fonte de recursos, funciona como ponto de encontro para a comunidade.
Além das atividades permanentes, campanhas e eventos são realizados ao longo do ano, como o Janeiro Branco (conscientização sobre saúde mental), o Orgulho Autista e a Virada Autista — esta última instituída como evento oficial no município por meio da Lei nº 8.177, de janeiro de 2025. A fundadora destaca que o instituto participou ativamente da articulação para aprovação da lei, que visa promover inclusão, conscientização e o fortalecimento das famílias atípicas.
Desafios
Diiva ressalta que, apesar de alguns avanços, Mogi das Cruzes ainda precisa de políticas públicas eficazes. “Vejo muitos projetos no papel, mas na prática, quando se trata de orçamento ou ações estruturantes, pouca coisa anda. As mães continuam invisíveis”, afirma.
Entre as demandas apontadas por ela, estão o atendimento prioritário na saúde pública para cuidadoras, políticas específicas de acesso ao transporte e parcerias mais sólidas entre a Prefeitura e organizações da sociedade civil. “Muitas dessas mulheres estão esgotadas, sem apoio, e com demandas urgentes. Há mães que chegam aqui sem ter o que comer. A assistência, quando existe, é precária”, lamenta.
A ativista também chama a atenção para o preconceito e a falta de compreensão: “No Instituto, orientamos que mães de crianças atípicas podem usar a fila preferencial mesmo quando estão sozinhas, porque muitas vezes aquele é o único momento que têm. Mas o julgamento vem rápido. São olhares que ainda não se estendem para toda a família, e isso precisa mudar”.
O Instituto Resiliência Azul busca doadores, parceiros e voluntários para ampliar o alcance do trabalho. Os interessados devem entrar em contato no perfil do Instagram @resilienciaazul, onde também é possível acompanhar as ações e eventos da entidade.
Galeria
Foto 1 - Resiliência Azul integra o projeto ASMARA, da Gerando Falcões - Divulgação
Foto 2 - Diiva participa de congressos e outros eventos ao lado de outros membros do instituto - Divulgação
Foto 3 - Bazar arrecada fundos para ações do instituto - Divulgação