A popularização das inteligências artificiais impactam o mundo do trabalho. Para Rodrigo Garzi, coordenador do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), conselheiro municipal de inovação em Mogi das Cruzes e cofundador do Alto Tietê Valley, os trabalhadores que conseguirem se apropriar dos instrumentos digitais poderão se destacar mais em suas áreas. Ele argumenta que essas ferramentas podem agregar ao conhecimento do profissional, funcionando de maneira acessória e permitindo a entrega de trabalhos com qualidade superior.
Para Garzi, atualmente, o Dia do Trabalho, comemorado nesta quinta-feira, 1 de maio, deve ser visto como um marco para refletir sobre as transformações do mercado de trabalho desde as primeiras revoluções industriais até o presente, caracterizado pelo rápido desenvolvimento de novas tecnologias e pelo amplo acesso à informação. “O tipo de trabalho mudou - e vai mudar cada vez mais rápido”.
O especialista também alerta que, nesse alto padrão de desenvolvimento tecnológico, algumas pessoas poderão ficar de fora do mercado de trabalho. Por isso, defende a reflexão sobre uma renda básica universal. “Acho que o Dia do Trabalho hoje é muito mais reflexivo do que histórico”, ressalta.
As pessoas que estudam sobre novas tecnologias enquanto trabalham em uma empresa, segundo o especialista, estão em uma posição confortável, pois podem usar suas experiências e contatos profissionais para crescer e aprender. Já os desempregados podem buscar ferramentas de produtividade e aprimoramento de serviços e produtos, para se integrarem às demandas atuais do mercado. Por fim, os empreendedores podem recorrer a recursos que melhorem a experiência do cliente ou a qualidade do produto ou serviço oferecido.
Oportunidades
A trajetória do empresário Marlon Lucio, 33 anos, demonstra a importância da constante capacitação e do uso das tecnologias atuais para desenvolver processos e produtos relevantes. Após concluir o curso técnico em Mecatrônica e cursar quatro anos de Engenharia Elétrica, ele decidiu empreender e, para isso, abandonou a graduação. Desde o início, já utilizava as tecnologias disponíveis para o desenvolvimento de projetos e processos.
Durante a última década, Marlon Lucio fundou uma rede de franquias, que recebeu importantes investimentos e depois foi vendida ao grupo Unilever. Marlon e seus sócios desenvolveram uma nova franqueadora na área de seguros e planos de saúde. Em outubro de 2024, ele deixou a empresa e lançou, com um sócio, sua corretora local de planos de saúde.
Para o empresário, a capacitação não precisa ocorrer apenas antes de iniciar um negócio. “Eu fui aprendendo e fazendo. Você estuda um pouquinho, faz um pouquinho”, explica. Como, segundo ele, muitas ferramentas não são abordadas em cursos técnicos e universitários, e sites também oferecem cursos para a compreensão dessas funcionalidades. Ele enfatiza que, ao sistematizar as habilidades e ferramentas a serem estudadas, é possível utilizar conteúdos gratuitos, como no YouTube.
Ele também acredita que não se adequar às tecnologias atuais pode impactar negativamente profissionais e empresas, que precisam se adaptar para se manterem competitivas. Mesmo em segmentos com valores tabelados, é possível se destacar ao oferecer planos melhores, comunicação mais acessível e maior transparência — diferenciais que podem ser potencializados pelo uso das novas tecnologias.
“A gente vai chegar (com as novas ferramentas) a um nível de personalização em que o cliente, na ponta, não saberá se está lidando com uma máquina ou com uma pessoa”. Embora defenda o uso de softwares como ferramentas de alto potencial, ele enfatiza a importância da humanização: “O risco é não utilizar isso para potencializar sua eficiência ou utilizar demais e acabar robotizando tudo, porque a pessoa por trás da inteligência artificial sempre será necessária”, conclui.
Vantagens e riscos
Para Garzi, o receio de ser substituído por ferramentas digitais não deve impedir o profissional graduado ou pós-graduado de continuar se capacitando e dominando essas tecnologias, que podem agilizar processos de trabalho. Mas o especialista também orienta: “Quem não estiver pensando em integrar isso à sua rotina está ficando para trás”.
Outro ponto destacado por ele é que o profissional deve conhecer as ferramentas e suas características para decidir com quais trabalhará e em quais processos. “O ChatGPT ainda é encarado como uma ferramenta de facilitação de escrita, mas é muito mais do que isso — é um assistente para melhorar as tarefas que nós fazemos”, explicou.
Sobre o receio de que as ferramentas de inteligência e automação reduzam os empregos, Garzi explica que o Brasil não possui o grau de industrialização necessário para a substituição em massa de trabalhos manuais por automação. Conforme o especialista, apesar da afirmação de Bill Gates, em um podcast, sobre a possibilidade de a IA suprir a escassez de médicos e professores, a função do médico continuará relevante pelas habilidades humanas de acolher o paciente. Contudo, admite que o uso de IAs pode reduzir falhas de diagnóstico, melhorando o atendimento e o tratamento.
Em alguma medida, segundo Garzi, todo trabalho pode ser impactado pelo uso das novas tecnologias. Ele afirma que o resultado tende a ser positivo para os profissionais que compreendem as tendências de mercado e se capacitam, como advogados, professores, programadores, consultores, profissionais de Customer Success (CS) e representantes de desenvolvimento de vendas (SDR).
Mercado global
De acordo com o cofundador do Alto Tietê Valley, o atual cenário de guerra comercial entre China e Estados Unidos também pode gerar oportunidades comerciais para as empresas e até mesmo alterar a posição do Brasil no mercado global. “A gente tem que parar de ser exportador de commodities. Precisamos ter produtos com tecnologias. Isso vai além da inteligência artificial”, finaliza.
Imagem I: Rodrigo Garzi
Imagem II: Marlon Lucio