Região - O Dia dos Professores é comemorado hoje, dia 15 de outubro. Só na região do Alto Tietê, pelo menos 18 mil profissionais atuam na área em prol da educação nas redes públicas municipais e do Estado. Irene de Almeida é um desses profissionais, professora do terceiro ano do Ensino Fundamental I em Suzano, revela sua paixão em dar aulas e sua trajetória por uma educação mais eficiente, inclusiva e acessível.
Irene contou que seu interesse pela educação teve início em 2013, quando trabalhava no período noturno em um abrigo de crianças e adolescentes em Mogi das Cruzes. Foi quando ela percebeu que muitos desses jovens não sabiam ler ou escrever, e viu, então, a necessidade de fazer algo a mais.
Em 2014, Irene iniciou o curso de Pedagogia na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e sua rotina mudou. Ela saia às pressas da faculdade no período da noite para chegar ao abrigo. "Foi muito legal porque eu não somente cuidava deles, como também conseguia ajudar na escola", lembrou a professora.
Em 2017 ela se formou, e logo no ano seguinte prestou concurso na Prefeitura de Suzano. Até ser chamada, Irene dava aulas particulares de reforço, quando em julho deste ano foi convocada para dar aulas na rede pública para as crianças do 3° Ano do Fundamental I, no período da tarde.
Ao começar a nova jornada, se deparou com os atuais desafios do ensino. "A realidade desses alunos hoje é muito diferente. É esperado, devido a pandemia, mas é bem diferente do que estávamos acostumados, quando crianças do primeiro e segundo ano sabiam ler e escrever. Hoje eu tenho 32 alunos, 21 são alfabéticos, mas 11 alunos não se apropriaram ainda do sistema de escrita", contou.
Durante a pandemia de Covid-19, segundo a professora, foi essencial que os alunos, pais e professores, se reinventassem para dar continuidade ao ensino. Para isso, muitas famílias tiveram que assumir uma nova postura no ensino dos filhos junto com as aulas remotas. Entretanto, nem todos podem contribuir com as tarefas. "Tem pais, infelizmente, que não sabem ler e escrever. Então como ensinar os filhos? Foi muito desesperador para todos. Eu tenho alunos, por exemplo, que não sabem escrever o próprio nome", disse.
Inclusive, com a volta às aulas, a profissional destaca um caso que a emocionou. "Nesse tempo que estou com eles, um caso que me marcou bastante foi um momento de leitura compartilhada quando eu sempre pergunto quem quer ler. Um aluno se ofereceu e cochichou no meu ouvido dizendo: 'Prof., lê para mim que eu vou repetindo'. Então, para não alarmar e ninguém perceber, eu fui cochichando e ele foi repetindo. E assim… ele ficou muito feliz e eu fiquei emocionada, porque você percebe a vontade que ele e muitos outros têm em aprender". A profissional também ressaltou que isso é essencial para a aprendizagem a participação dos alunos.
Ao mesmo tempo, Irene ressaltou também a importância da participação da família, como um fator que potencializa o ensino, por mais que muitas vezes seja difícil acompanhar as crianças. "É uma realidade que não é para todos. Não é todo mundo que se importa e não é todo mundo que tem tempo", lamentou.
Irene adverte que toda a situação atual do ensino é resultado de uma grande desigualdade no acesso à educação de base e de qualidade, causando uma grave deficiência na aprendizagem. Neste ponto, ela considera fundamental a presença de profissionais capacitados, que amem a profissão e estejam dispostos a contribuir para o desenvolvimento dos alunos é primordial.
"Precisamos de pessoas diferentes, pessoas que se importem, que tenham empatia e se coloquem no lugar do outro, que percebam a necessidade do outro e, acima de tudo, goste do que faz", afirmou. Para ela, ser professora é a realização de um sonho: "Vivo um sonho em que a ficha não caiu ainda", disse.
Reconhecimento
A professora do maternal Jussara Oliveira também revela como a classe ainda é preterida e não recebe o devido reconhecimento. "O docente ainda não tem o valor devido, não é apenas um emprego ou um dever. O trabalho na educação é constante. Professor tem que estar sempre atualizado, tem que saber lidar com pessoas, com a inclusão, com a sociedade, não é nada fácil, mas apesar de tudo isso é gratificante ver os objetivos sendo alcançados nas retas finais".
Para ela, objetivo final são os alunos: "Quando falamos de metas e objetivos, é saber que o aluno alcançou o conhecimento, nada é mais gratificante na nossa profissão".
*Texto supervisionado pelo editor.