Vários documentos usados para denunciar e afastar o prefeito de Ferraz de Vasconcelos, Acir Filló (PSDB), foram forjados. A informação foi confirmada pelo renomado perito técnico Ricardo Molina de Figueiredo. O especialista analisou quatro documentos, entre eles um suposto contrato de compra de 30% das quotas do jornal Diário do Alto Tietê (Dat).
A reportagem esteve ontem no Instituto de Pesquisa de Som, Imagem e Texto (Ipesit), em Campinas, onde Figueiredo concedeu entrevista e mostrou detalhes que comprovam a falsificação de quatro documentos, o que ele classificou como "tosca" e "grotesca".
O perito analisou três contratos, sendo um de aquisição de quotas dos jornais Diário de Suzano, por R$ 2 milhões, e Diário do Alto Tietê, no valor de R$ 1,5 milhão, juntamente com o recibo de pagamento à vista, além do contrato de compra e venda de um imóvel em Ferraz no valor de R$ 940 mil. "Todos esses documentos são falsos. E são falsificações grosseiras", avaliou o especialista.
Um dos fatores que caracterizam a falsidade nos documentos são as rubricas. "As assinaturas são iguais, idênticas. A falsificação é evidente, qualquer perito reconhece que isso é falso", explicou, se referindo ao contrato de aquisição de quotas do Dat. "A assinatura que está no recibo é a mesma que está no contrato. Foi copiado do mesmo lugar. O falsário não teve sequer o cuidado de escanear de documentos diferentes. No detalhe conseguimos ver melhor. O traçado é exatamente o mesmo. Foi escaneado de outro lugar, de outro documento e foi aplicado sobre esses três contratos".
Ricardo Molina ainda destacou o fato de que os documentos contratuais apresentam diversas falhas, como a ausência de cláusulas. "Além de outros problemas, cláusulas foram puladas. O próprio conteúdo do documento é estranho, passa da cláusula quarta para a cláusula sétima", observou. "É algo tão tosco. E não falo de indícios sutis de falsidade, estou falando de indícios grotescos. Me pergunto como o Ministério Público aceita um documento desse. É tão visivelmente falso que causa estranheza que o órgão acate um contrato desses", avaliou. "Acho que a primeira coisa que deveria ter sido feita no MP era submetê-lo a uma perícia, antes de se tomar qualquer atitude de ordem jurídica".
O caso
O prefeito Acir Filló foi afastado do cargo em dezembro de 2015 pela Justiça por causa de denúncias de prática de improbidade administrativa e diversos contratos de compra e venda de imóveis e ações que ultrapassam
R$ 5 milhões.
Essas aquisições foram consideradas pelo Judiciário incompatíveis com os rendimentos do tucano. No entanto, a Justiça analisa cerca de 20 contratos, dos quais apenas quatro foram encaminhados à perícia pelos advogados do prefeito.