Na semana passada ouvi uma entrevista do advogado do senador Delcídio Amaral, externando indignação porque, supostamente, a gravação da conversa que implicou a prisão do senador ocorreu sob orientação externa. Parece que alguns investigadores da Lava Jato concordam com essa tese de que aquele ato recebeu coordenação de fora, em função de suas características, método aplicado, como foi conduzida a conversa, etc.. Neste caso, a defesa de Delcídio alega que, segundo a previsão legal, tal prova não teria validade, necessitando ser anulada e, portanto, revogada a prisão do político. Honestamente, não sei se a lei, efetivamente, prevê isto, mas se prevê e o caso culminar no relaxamento da prisão ou mesmo se houver essa possibilidade, parece que temos aqui mais uma complexa e absurda questão dos tempos pós-modernos em que, por causa da forma, a essência é desprezada com implicações por demais, injustas. Ora, o fato é que a realidade acabou por vir à tona e precisa ser considerada. Se o meio para que houvesse a revelação não foi o mais adequado ou se faltou algum tipo de pudor ou melhor ética para a obtenção da confissão - não estamos tratando aqui de tortura ou afim - que se busque responsabilizar os que passaram do ponto ou feriram a boa ética, mas isto não deve reverter ou subverter a verdade exposta e confessa. Não há mais como desconsiderá-la, do contrário, temos porta aberta para um efetivo estado de insegurança quanto à legítima punição. O senador Delcídio, segundo o que divulgou a mídia, propôs claramente, um plano de fuga ao pai de Bernardo, mais remuneração à família, caso Nestor Cerveró poupasse o senador e o banqueiro André Esteves nas delações relativas à corrupção na Petrobrás. Estamos tratando de um homem público do mais alto escalão do legislativo e de um grande empresário, os quais deveriam ser exemplos de moral e conduta. Fechar os olhos para a palavra gravada é, simplesmente, desprezar o que é óbvio com implicações ainda mais negativas para um país que já goza de condição alarmante do ponto de vista moral!