Reencontrar a família e realizar atividades rotineiras como trabalhar e dormir no aconchego do lar. Ações aparentemente simples, mas que para muitos dependentes químicos internados em casas de recuperação, consistem na principal meta de vida a ser alcançada após o término do tratamento.
É o caso do garçom Vitor de Souza, de 28 anos, que há seis meses faz terapia no Instituto Terapêutico Projeto Cabral, que auxilia na recuperação de dependência química e alcoolismo, localizado no bairro do Cocuera, em Mogi das Cruzes.
Souza foi abandonado pela mãe quando ainda era criança e, desde então, passou a ser criado pelo pai, que tinha problemas com o alcoolismo. O consumo de álcool na infância se transformou em um problema maior na adolescência, quando o garçom passou a ser usuário de maconha. O vício, que para ele parecia inofensivo, o levou a usar drogas mais fortes, como a cocaína e o crack. "Foram dez anos nessa vida, até perder tudo o que eu tinha. Sem dinheiro, passei a roubar coisas de casa para sustentar o vício. Então, minha esposa se separou de mim e ficou com meu filho. Fui morar nas ruas. Fiquei como andarilho por mais de um ano, comendo lixo e tentando sobreviver, até que fui resgatado", lembra.
A oportunidade de um recomeço surgiu em março deste ano, quando estava nas ruas da Cidade Tiradentes, na capital paulista, e foi convidado por voluntários do Instituto Terapêutico para uma internação. "Eu já não tinha mais esperança. Se não fosse a ajuda que tive, certamente estaria morto. Hoje, retomei o contato com a minha esposa e o que mais quero é voltar pra casa. Mas antes, sei que tenho que cuidar de mim para ser uma pessoa melhor para eles. O tratamento que estou recebendo aqui, gratuitamente, é fundamental para isso", comenta.
Expectativa parecida é a do funcionário público, Paulo Renato, de 30 anos, que há dois meses iniciou a terapia na mesma unidade. Há 11 anos, ele convive com o vício do álcool e da cocaína. "Antes eu achava que estava tudo bem. Não fazia ideia do problema que estava enfrentando. Até que percebi que já não conseguia mais andar de cabeça erguida nas ruas. Acho que a principal dificuldade de um dependente químico é reconhecer que precisa de ajuda", descreve.