Na tevê há mais de cinco décadas, protagonista definitivo e sempre disputado entre os núcleos dentro da Globo, chega a impressionar a empolgação de Tony Ramos a cada novo trabalho. "No dia em que eu tratar a atuação como qualquer coisa, é sinal de que é hora de me aposentar. Acredito que isso esteja bem longe de acontecer", brinca.
As certezas do ator residem nos bons convites que ele vem recebendo. Aos 67 anos e com toda a gama de personagens já vividos sob o olhar do público, Tony é categórico ao afirmar que o ambíguo Zé Maria, de "A Regra do Jogo", é o trabalho mais difícil de sua carreira. "Eu sempre falo isso, mas agora é sério. Nunca interpretei ninguém tão misterioso como ele. A cada nova cena tenho a responsabilidade de deixar no ar segredos e intenções que não estão no texto, mas nas entrelinhas que a novela carrega", analisa o ator.
Paranaense da pequena Arapongas, Tony passou parte da juventude no interior de São Paulo, onde teve suas primeiras impressões com o cinema e virou fã dos filmes de Oscarito. Aos 16 anos, disposto a seguir a carreira de ator, resolveu se mudar para a capital, onde logo encontrou abrigo em pequenos grupos de teatro amador.
A tevê surgiu para nunca mais sair da vida do ator. Entre os anos 1960 e 1970, trabalhou de forma ininterrupta em novelas e programas da extinta Tupi. Em 1977, se transferiu para a Globo e, consequentemente, para o Rio de Janeiro, onde está até hoje. Na lista de sucessos, tramas como "O Astro", "Pai Herói", "Baila Comigo", "Rainha da Sucata", "A Próxima Vítima" e "Belíssima", entre tantas outras.
Apesar dos muitos personagens e de ter se tornado um dos símbolos do herói romântico, Tony se mostra avesso a qualquer glamurização. "Nunca entrei nessa de ser celebridade ou símbolo sexual. Nem quando era novo eu poderia fazer isso. Meu negócio é atuar, gosto do momento em que o diretor grita: 'gravando'. Sempre me senti um operário dentro de um trabalho coletivo", ressalta.
Natureza selvagem
Tony Ramos começou a imaginar a figura de Zé Maria assim que deixou a primeira reunião com a diretora Amora Mautner e o autor João Emanuel Carneiro. Durante seis meses, o ator se dedicou a ganhar peso e barba para o personagem. Misterioso e em eterna fuga, o ator acredita que o visual que exibe na atual novela das nove é bem coerente com a história de Zé Maria e contraria o estilo mais arrumadinho da grande maioria dos tipos que já interpretou na tevê. ("A Regra do Jogo", Globo. De segunda-feira a sábado, às 21h20).