Em 2007, aos 16 anos, Giovana Iniesta começou a suspeitar que tinha alguma condição, após notar que o topo da sua cabeça estava com fios mais ralos. Na época, ainda morava em Mogi das Cruzes com sua mãe e chegou a consultar alguns médicos, mas foi só em 2016, morando em São Paulo, que o diagnóstico chegou. Ela descobriu que tinha alopecia androgenética (AAG).
Giovana, jornalista e pós-graduada em marketing, relata que o sentimento da descoberta foi triste, mas pelo menos finalmente tinha conhecimento da condição. “A autoestima já vinha sendo impactada há muitos anos, então achei bom saber com o que eu estava lidando”, comenta.
Hoje, aos 32 anos, ela aprendeu a lidar com a calvície, embora relembre os cabelos da adolescência. Ela afirma que entende que existem qualidades que independem disso e segue a vida de modo que não a paralise. “Se eu quero dar um mergulho na piscina e sei que a alopecia vai ficar ainda mais evidente, eu vou mesmo assim. Eu não me privo de viver as coisas. Lógico que, neste caso em específico, eu cubro a cabeça com chapéu depois do mergulho, porque não quero queimar meu couro cabeludo, mas não é para não ficarem olhando”, relata.
Projeto nas redes
Após um episódio em 2018, em que uma pessoa em situação de rua falou para Giovana que ela estava ficando careca, ela decidiu criar um perfil no Instagram para compartilhar suas vivências. Na hora, surgiu um misto de sentimentos: “Estava triste, mas também com raiva e me perguntando se essa ‘ofensa’ seria dita a um homem calvo”. Ao conversar com seu namorado, atual marido, o @pormaisfios surgiu.
No perfil na rede social, a jornalista fala sobre o seu dia a dia, a forma com que arruma o cabelo e os cosméticos que utiliza. Ela também comenta sobre tratamentos que faz e que acredita ser interessantes, mas com o cuidado de não incentivar a automedicação, levando em conta evidências científicas e pareceres de especialistas sobre o assunto. “De quebra, minhas seguidoras ainda podem ver o cachorro mais lindo do mundo, o meu Nescau. Ele virou tipo uma mascote da conta”, complementa.
O perfil soma mais 26 mil seguidores e Giovana diz que ainda se impressiona com a quantidade de mensagens de pessoas, algumas que nunca a viram pessoalmente, agradecendo por informações e compartilhando a vida com ela. “Elas me ajudam nos dias difíceis também. Tenho uma rede de apoio maravilhosa”, completa.
No começo, a ideia era apenas um refúgio, compartilhando sentimentos e informações sobre tratamentos, tanto que até mesmo a família dela não sabia. Ela acreditava que pudesse ajudar alguém, mas não milhares de pessoas.
Aceitação e identificação
Giovana conta que recebe relatos de mulheres que só contaram da AAG para o marido depois que conheceram o perfil na rede social. “O fato de as mulheres saberem que não estão sozinhas dá muita força. Isso acaba um pouco com aquele sentimento de 'logo eu, por quê?', e vira: 'eu tenho calvície, mas a fulana e a cicrana também têm, e vivem uma vida normal com isso', explica.
Ela conta que diversas vezes recebeu depoimentos que a emocionaram, especialmente quando descobrem a calvície por meio das postagens e resolvem consultar um médico. Giovana relata que não teve o diagnóstico no início da AAG, mas que fica feliz por ajudar outras pessoas a descobrirem cedo.
Entretanto, a exposição nas redes também traz situações difíceis: “Eu recebo depoimentos depressivos, advindos de mulheres que realmente estão desesperadas e não sabem como lidar com o fato de que estão perdendo o cabelo. Oriento como posso e dou palavras de consolo”.
Projetos
Entre suas contribuições, a jornalista lançou o livro digital “Por Mais Fios de Conhecimento”, falando como a calvície afetou diversas esferas de sua vida, o quanto já gastou com tratamentos que não funcionaram e trazendo reflexões. O material está disponível pelo link: https://giovanainiesta.kpages.online/pormaisfiosdeconhecimento
Em setembro, Giovana lançará o “Por Mais Fios – O Guia”, com informações sobre tratamentos de primeira linha e complementares, com embasamento científico. “A ideia dos meus conteúdos é sempre empoderar as mulheres para que elas cheguem nas consultas médicas sabendo o que e como perguntar para seus médicos, além de conviverem melhor com a alopecia delas”, completa.
Mitos e verdades
O tema da alopecia androgenética é rodeado de mitos e verdades e, para Giovana, o senso comum está mais repleto de mitos. Alguns dos principais exemplos que ela cita são: somente homens têm a condição; vitaminas fazem os cabelos crescerem em quantidade e velocidade; secador de cabelo faz os fios caírem; usar boné para a calvície, e xampus são capazes de tratar queda de cabelo.
Já as verdades envolvem: AAG afina os fios a cada ciclo de vida, até eles não nascerem mais; não é manifestada por excessiva queda de cabelo; é causada por uma predisposição genética a ser mais sensível a hormônios masculinos no couro cabeludo; não tem cura e o tratamento é contínuo.
*Texto supervisionado pelo editor.