Imagine uma ferramenta de gestão que não vem em manuais, não requer investimento e está disponível até na fila do pão. Ela se chama fofoca, ao contrário do que pregam os descrentes, pode ser a alma do negócio. 

Antes de a escrita nascer, a primeira fofoca não era veneno: era o sopro que mantinha a tribo viva. Em volta do fogo, era compartilhado que: "o rio transbordou na curva" e "as frutas na colina amadureceram". Aquele ato de sussurrar era um pacto de proteção mútua. 

Das calçadas às conversas de WhatsApp, a boa e velha fofoca, aquela que conecta, informa e protege revela-se como o mais eficiente sistema de inteligência empresarial. Enquanto grandes corporações gastam fortunas em pesquisas de mercado, pequenos empreendedores mantêm o ouvido atento às conversas da comunidade e descobrem oportunidades. 

A fofoca do bem é a arte de compartilhar informações que elevam, conectam e resolvem problemas. É o colega que indica um bom contador e o cliente que comenta sobre uma vaga perfeita. Esses sussurros aparentemente simples formam uma teia de proteção coletiva que mantém os negócios de pé. 

No universo das pequenas empresas, onde cada real conta e um erro pode custar caro, a fofoca funciona como um GPS compartilhado. É o "fique sabendo que..." que previne prejuízos, o "olha, conheço alguém que..." que abre portas, o "tome cuidado com..." que poupa dores de cabeça.  

O empreendedor que entende esse jogo transforma a padaria em central de informações, a barbearia em sala de negócios, a lojinha da esquina em posto avançado de inteligência comercial. São nesses espaços que circulam as  melhores oportunidades: o fornecedor ágil, o funcionário competente, o cliente em potencial, a parceria que ninguém tinha imaginado. 

Que tal começar a observar com outros olhos aquelas conversas aparentemente casuais? Preste atenção nos comentários sobre o novo condomínio na região, na queixa sobre a falta de um serviço especializado, no elogio espontâneo. Esses são os sinais que o mercado emite e que apenas os ouvidos atentos captam. 


Márcio Barbosa é consultor de negócios do Sebrae-SP