Na cidade de Londrina, Norte do Paraná, quando freqüentei o curso secundário do Colégio Londrinense a gente tinha um professor de Português, Almo Saturnino, que antes de iniciar a aula, em tom de pilhéria, dizia: "Eu sou aquele que clama no deserto. No entanto, eu não sou João Batista e nem me visto com pelos de camelo, nem como gafanhotos e nem mel silvestre". Preocupado com o nível de aproveitamento dos alunos nos fazia rir e descontrair, porém, exigente quanto ao aprendizado.  

O nosso povo, em sua maioria, vive entorpecido quanto à lição do passado recente sobre o risco de perdermos a democracia, como ocorreu na Venezuela. J. R. Guzzo no artigo "Democracia no Chão" considera que pouco sobrou dela no Brasil, e interroga: "Quanto tempo ainda isso irá durar? É difícil dizer, pode durar um tanto mais, um tanto menos. Para a maioria dos brasileiros, tanto faz – pouco ligando para o assunto, e quando liga é para torcer contra". 

O povo está perdendo  o sentimento de civismo, sem ele não há dedicação ao interesse público e a política do país, sem discernimento necessário para que possa escolher  o candidato mais digno  que merece o seu voto patriótico. Vota errado ou deixa de votar; mais de 290 mil eleitores do Alto Tietê não foram às urnas. Tancredo Neves no discurso de posse em 15/01/1985: "Não teremos a Pátria que Deus nos destinou enquanto não formos capazes de fazer de cada brasileiro um cidadão, com plena consciência desta dignidade". 

Thomas Jefferson nos deixou esta frase: "Estremeço por meu país quando reflito que Deus é justo. Sua justiça não pode dormir para sempre". Ele tinha o temor de que certas iniqüidades atropelassem a justiça humana e exigissem uma força transcendente para barrar sua expansão sob ação terrível da ira divina.  Se o eleitor deixar de lado o fanatismo e votar no candidato suficientemente capaz e digno para governar com justiça, ouviremos depois do povo brasileiro, numa só voz: "Este é o Brasil que eu quero". 

Mauro Jordão é médico.