Tudo joia? Não. Também tem fuzil, pistola, mais de 40 relógios e transporte de cocaína em um avião presidencial da FAB. Isso é apenas o que já foi revelado. Não é pouca coisa. Avaliado em R$ 16,5 milhões, o conjunto de joias que o governo da Arábia Saudita quis presentear nossa primeira evangélica dama supera, em valor, todos os presentes recebidos por Joe Biden e a primeira-dama, Jill Biden, em 2021.
Considerando os presentes declarados por todas as autoridades do governo federal americano, os servidores americanos receberam US$ 309,4 mil em presentes, o que equivale hoje, a R$ 1,6 milhão.
Um par de brincos, um anel, um relógio e um colar de diamantes da marca suíça Chopard chegaram ao Brasil em 26 de outubro de 2021. Se a intenção fosse incorporar as joias ao patrimônio do Estado brasileiro, atribuindo a elas a condição de presentes da Arábia Saudita à União, um documento deveria ter sido formulado pelo governo federal, o que nunca foi feito. Nesse caso as joias gozariam de imunidade e não seriam tributadas. Segundo a legislação brasileira, qualquer viajante que chegue ao Brasil trazendo um item que valha mais do que US$ 1 mil (R$ 5,2 mil) deve declarar esse item à Receita Federal. As joias por não terem sido declaradas, foram retidas.
O caso é tão escabroso que, ao não conseguir ter as joias liberadas pela Receita, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque tentou usar seu cargo para liberá-las. Jair Bolsonaro, então, recorreu a ministérios ao menos quatro vezes para tentar reaver as joias. Nas vésperas da fuga para os EUA, mais uma tentativa. Um enviado de Bolsonaro tentou recuperar joias de Michelle.
Existe a suspeita de que os tais mimos seriam uma retribuição em troca de ações do governo Bolsonaro que beneficiaram a Arábia Saudita. A suspeita recai sobre a venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), em São Francisco do Conde, na Bahia, por U$ 1,8 bilhão para o fundo dos Emirados Árabes Unidos, quando o BTGpactual estimava em U$ 4 bilhões. Tudo que vem da família Bolsonaro tem aspecto de crime, jeito de crime e é crime.
Afonso Pola é sociólogo e professor.