Tornada pública via redes sociais, a crise dos Yanomamis ganhou contorno monstruoso com a exposição de imagens de indígenas magros e abatidos, inclusive crianças. As imagens chamaram a atenção para a crise humanitária na região, com serviços de saúde precarizados e frequentes confrontos entre garimpeiros e nativos.
Pelo menos 570 crianças yanomamis morreram em decorrência de desnutrição nos últimos quatro anos, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Segundo o médico tropicalista André Siqueira, do Instituto Nacional de Infectologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que esteve na região, ele testemunhou "a pior situação de saúde e humanitária" que já viu.
O processo de desmonte de políticas públicas e órgãos ligados a essas políticas, principalmente voltadas aos povos indígenas, aumentou o grau de vulnerabilidade desse povo. Uma primeira medida que afetou diretamente a atenção primária à saúde foi o fim do programa Mais Médicos. Quase 90% dos médicos que faziam atendimento em áreas remotas e com populações em vulnerabilidade faziam parte desse programa.
Com o governo Bolsonaro, corte de recursos precarizaram instituições importantes como Funai e Ibama. O esvaziamento do Ibama abriu espaço para que ilegalidades disparassem, principalmente em áreas indígenas.
No geral, o Brasil viveu retrocesso em todas as áreas. Em 2021, o pior ano da pandemia, os recursos para enfrentar a Covid-19 caíram 79% em relação a 2020; a Saúde perdeu R$ 10 bilhões entre 2019 e 2021 subtraídas as verbas destinadas ao Sars-CoV-2; a habitação de interesse social não gastou qualquer recurso entre 2020 e 2021; a assistência para crianças e adolescentes perdeu R$ 149 milhões entre 2019 e 2021, e educação infantil viu seu orçamento diminuir mais de quatro vezes.
O governo atual tomou medidas urgente para o enfrentamento da crise sanitária que acomete os Yanomamis, a partir da criação de um comitê. Por sua vez, o ex-presidente usa as redes sociais para dizer que a responsabilização de seu governo era mais uma "farsa da esquerda". Somente mais uma mentira.
Afonso Pola é sociólogo e professor.