Não é estranho que alguns dias depois de ter dito que "o PT se lambuzou" o ministro Jacques Wagner apareça lambuzado em novas investigações da Operação Lava Jato? Na verdade, nada parece estranho no modo petista de habitar ambientes subterrâneos de poder, e de construir ligações perigosas com todos os tipos imagináveis de heterodoxia no trato com a coisa pública.
A fala de Wagner, que segundo a versão luvas de pelica com que a imprensa trata as relações de poder, causou "mal estar" entre governo e PT, pretendia, no fundo, ser uma autocrítica higienizada do partido, mas como o que fica no imaginário popular são as palavras mais fortes, o ministro chefe da Casa Civil acabou puxando uma descarga mais barulhenta do que ele imaginava.
E explicação que Jacques Wagner desenvolveu para explicar o "lambuzado" é de uma inocência angelical. Na verdade, ele atravessou o samba e saiu do ritmo:
"O PT errou ao não ter feito a reforma política no primeiro ano do governo de Lula. Aí não mudou os métodos do exercício da política. Ficou usando as ferramentas que já eram usadas, do financiamento privado (para campanhas eleitorais). O resultado é que o PT, que não foi treinado para isso, (encarnou o ditado) "quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza".
Tarso Genro, que passa por reformista e eterno candidato a "refundador" do partido, já escolado na tergiversação desde o asilo concedido ao terrorista e assassino italiano César Battisti, condenado em seu país por participação em quatro homicídios, puxou-lhe as orelhas:
"A declaração de Wagner foi profundamente infeliz e desrespeitosa, porque generaliza e não contextualiza. Ele faz coro com o antipetismo raivoso que anda em moda na direita e na extrema direita no País. Com a responsabilidade que ele tem, deveria ser menos metafórico e mais politizado em suas declarações".
A terceirização da culpa é outra das características do DNA petista. Atrás de qualquer fracasso, há sempre um culpado em quem descarregar a ira. E esse culpado nunca está entre eles. Tarso Genro pediria menos metáfora e mais politização?