São dois exércitos sobre um tabuleiro prontos para se enfrentar. O tempo começa a correr e a disputa entre as mentes vai se materializando na movimentação estratégica das peças: avançando e tomando espaços. O objetivo é atacar o rei e deixá-lo sem defesa. Assim é o xeque-mate. "Às vezes, você acha que pensou só durante cinco minutos e, na verdade, percebe que se passou meia hora". A justificativa que soa, talvez, de forma ilógica, é do presidente do Clube de Xadrez de Mogi das Cruzes, o microempresário Cláudio Lísias Tamarozi, de 52 anos.
O senhor de barbas e cabelos brancos, sorridente, e que se define como um cristão sem religião, mas que prega o amor entre as pessoas, é um apaixonado pelo esporte milenar, que também pode ser descrito como uma ciência ou até mesmo uma arte. "O xadrez é lindo demais", complementou Tamarozi. Um amor que contagiou a filha, Isabelle, de 20 anos, e a elevou à posição de número cinco no ranking brasileiro de xadrez. "Ela é referência no Brasil. São 13 anos como jogadora de alto rendimento", contou. (Leia mais na página seguinte)
O esporte entrou na vida do microempresário quando ele tinha 7 anos de idade. Foi o irmão, Sérgio Paulo Tamarozi, que faleceu há quatro anos, que lhe ensinou o passo a passo de como jogar xadrez. "Nós morávamos em Fortaleza, no Ceará. Foi uma época em que meu pai foi pastorear uma igreja lá. Depois, só viemos para Mogi das Cruzes em 1981. Eu peguei muito gosto por aquilo (xadrez). Comecei jogando na escola e quando cheguei em Mogi, a primeira coisa que fiz foi procurar um clube de xadrez. Só que nesta época havia um clube que já estava encerrando as suas atividades. Até dei uma parada com o xadrez nesta época", detalhou.
Em Mogi, Cláudio se formou em Direito. No ano de 1991, fundou a Usem Livraria Cristã Megastore, situada na rua Braz Cubas, e, logo depois, se casou. Da união vieram dois filhos, Isabelle (a mais nova) e Isaque, hoje com 23 anos. "Entre 2005 e 2006, os meus filhos começaram a jogar xadrez. A minha filha tinha uns seis anos e sempre se destacou mais no esporte. Eu os levava em torneios de xadrez para todos os lados e comecei a perceber que outros competidores da idade deles iam muito melhor. Estavam muito à frente deles. Eu descobri que todos faziam parte de algum grupo de xadrez. Como não tinha como eu levar os meus filhos todos os dias para São Paulo, em um grupo de xadrez lá em Santo Amaro, eu acabei fundando um clube aqui em Mogi, em 2007. O clube se chama Clube de Xadrez de Mogi das Cruzes (CXMC)", detalhou.
A partir deste ponto, o esporte começou a entrar ainda mais na vida do microempresário. O objetivo com a criação do grupo, segundo Tamarozi, não foi ganhar dinheiro. Pelo contrário. Era, além de melhorar o desempenho dos filhos, poder, de alguma forma, promover trabalhos sociais na cidade por meio da prática do xadrez. E assim foi feito. "A função de um clube de xadrez é como se fosse uma ONG, uma associação sem fins lucrativos. Um clube de xadrez contempla algumas áreas. A de entretenimento é voltada às pessoas que querem apenas passar lá para jogar um xadrez básico. Outra é a vertente social. Por exemplo, atendemos muita gente, inclusive, pessoas com deficiência. Este quadro que você está vendo aqui (apontando uma tela à base de tinta óleo) é fruto de um trabalho que a gente fez em um centro de recuperação terapêutica, em 2012, na região de Biritiba Mirim. Eu passei meses indo lá, ensinando xadrez. Quando foi no último dia, me lembro que abracei um por um e tinha um rapaz que fez este quadro e todo mundo assinou atrás. Foi muito emocionante. Esta é a função social, aliás, todos os anos a gente faz torneios para arrecadar alimentos para diversas organizações", explicou.
O quadro realmente chama a atenção de quem entra na sala do enxadrista, na parte dos fundos da livraria, local onde ele recebeu a equipe do Mogi News. A tela revela uma mão esquerda prestes a movimentar a dama, considerada a peça principal dentro do tabuleiro. "O clube de xadrez também é voltado ao atleta de alto rendimento. A sede do CXMC fica na Biblioteca Municipal, no prédio do Centro Cultural de Mogi. A prefeitura doou este espaço para nós. Não se cobra nada. Os encontros são todas as sextas-feiras, à noite. Faço tudo isso por amor ao esporte", concluiu.