Aos 92 anos de idade, totalmente lúcido, porém com dificuldades de locomoção, o padre italiano Alfredo Morlini, conhecido como Padre Vicente - nome adotado no sacerdócio - e que dedicou sua vida ao bem-estar e à dignidade dos idosos, afirma categoricamente: "É preciso ter gosto de viver e eu tenho muito gosto". O religioso, que mora em Mogi das Cruzes desde a década de 1960, foi o fundador do Instituto Pró Vida São Sebastião, entidade voltada aos cuidados com os mais velhos.
Atualmente, Morlini está afastado das atividades do instituto e vive recolhido em seu apartamento, no bairro do Socorro, em Mogi, local onde concedeu entrevista para o Mogi News. Vestido com um conjunto de moletom escuro e sentado confortavelmente no único sofá (de dois lugares) da sala, o padre, dono de uma fala mansa e ainda bem carregada com o sotaque italiano, contou parte de sua trajetória no catolicismo, iniciada ainda na infância.
"Certa vez, um padre da Ordem dos Servos de Maria, que foi onde eu estudei no seminário, foi visitar a minha família. Ele me viu e disse que eu tinha vocação para entrar no seminário. Eu tinha uns 11 ou 12 anos. A partir daí foram 12 anos de estudo, entre eles quatro de Teologia em Roma, até que, aos 24, eu me formei padre", contou. Padre Vicente nasceu em 1928, na cidade de Reggio Emilia, na região norte da Itália.
A partir daquele momento em que foi levado para o seminário pelo padre amigo da família, o religioso passou a se dedicar cada vez mais à sua vocação. Após ter iniciado sua vida sacerdotal, logo em seguida, o padre se tornou o vigário da paróquia Budlio de Bologna. "Na Itália, me fizeram superior, mas isso não me interessava. E eu quis vir para o Brasil como missionário. Já tinha alguns amigos padres trabalhando aqui e eu sentia esta vontade de poder ajudar as pessoas", detalhou.
No início da década de 1960, Morlini viajou para o Brasil, mais precisamente para Rio Branco, a capital do Acre. "Aprendi português no meio do povo e muitos vocábulos são parecidos com o idioma italiano. Trabalhei na periferia de Rio Branco em uma região que chega próximo à Bolívia. Só tinha mato naquele lugar", relembrou.
Certa noite, o padre italiano começou a se sentir mal e procurou ajuda de um médico que morava perto da Casa Paroquial. "Por volta de uma hora da madrugada eu senti um calafrio de um jeito que eu nunca havia sentido antes. Uma coisa terrível. Ele (médico) me examinou e avisou que eu havia contraído malária, mas que lá em Rio Branco não tinha cura e eu precisava ir para São Paulo", explicou.
Foi assim que Alfredo trocou a região norte do país pelo sudeste. Na capital, o sacerdote morou em uma casa de padres na região do Ipiranga e, depois de um tempo, veio para Mogi das Cruzes. "Quando cheguei em Mogi vi uma cidade em desenvolvimento. O bispo me enviou para o Mogi Moderno e fiquei na Paróquia de Santo Antônio. Depois, fui na Catedral de Santana, no centro. Ainda em Mogi, Morlini deu aulas de Filosofia na então Universidade Braz Cubas (UBC) e na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC).
O despertar para a criação de um espaço direcionado aos idosos surgiu quando o vigário se deparou com um senhor que havia acabado de perder a esposa. "Lá na Itália eu já cuidava de idosos. Sempre considerei muito a dignidade do idoso. Depois que eu estava aqui no Brasil, certo dia, me deparei com um idoso muito triste. A esposa dele havia morrido e ele se sentia muito só e desamparado. Daí veio a ideia de cuidar dele. Me reuni com umas sete pessoas e fundamos algo para cuidar de idosos. Era o começo do Instituto Pró Vida em Mogi. Primeiro, adotamos os fundos de uma paróquia e depois fundamos a instituição que foi instituída para legalmente poder trabalhar com idosos. Estávamos lidando com pessoas geralmente incapazes de se auto administrar. Fizemos a coisa regular para nunca ter problemas, como fiscalização, estas coisas", finalizou.