Em um filme de ação do começo dos anos 2000, o personagem de um oficial militar dizia a seu subordinado que jantares finos e caviar são artigos de luxo que eles tinham à sua disposição, mas tempo não era um luxo. E, em pleno ano de 2022, esta constatação volta à baila do público de maneiras que não poderiam se imaginar à ocasião em que o filme foi lançado.
As recentes declarações da direção da Santa Casa de Misericórdia de Mogi das Cruzes colocam data e hora para uma das piores crises que uma administração pública pode vivenciar: a perda da capacidade de atendimento de urgência e emergência de sua população. Diante da emergência da situação, o que antes era uma tratativa entre apenas dois entes - contratante e contratada - ganha novos participantes e uma nova perspectiva. Com a Câmara Municipal, o Ministério Público como novos participantes do processo, a preocupação com o atendimento à comunidade começa a aumentar.
Mas não se trata do caso isolado de Mogi das Cruzes sobre dilemas e caminhos a escolher. O "pacote de bondades" do governo federal sob a provisão da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que suspende o teto de gastos e despeja bilhões de reais em benefícios e subsídios, faltando menos de três meses para a eleição, mesmo com o carimbo do "estado de emergência" não figura como tal, e age como se nenhum gestor público tivesse vivido os últimos três anos neste mundo de crises econômicas e guerra.
Poucas são as crises que surgem sem um aviso prévio, e contra estas contingências não há outra solução a não ser absorver o impacto e prover as melhores condições possíveis para atender o interesse comum. Na maioria dos casos, é um processo prolongado, de ritmo lento e contínuo.
No entanto, é fácil olhar para o passado sem sofrer de miopia diante das escolhas e possibilidades de cada um, e a resolução deste caso demonstra os meandros e desafios da administração pública. Mesmo à contragosto de governantes e servidores públicos, o tempo corre, e corre de maneira impiedosa sobre aqueles que não estão preparados. Em Mogi, ainda há tempo.