Depois de tantas tentativas fracassadas de mudar o mundo, só nos resta a opção óbvia de mudar o homem. Para a psicanálise, a origem da doença está na família e na sociedade. A maioria dos profissionais da saúde sente frustração por estar exercendo uma medicina que mais alivia os sintomas do que cura.

Um aforismo antigo diz: "Não há doença e sim doente que produz doença". O paciente deve se conscientizar que o erro, também, está nele e não apenas no outro. A decepção nos resultados é grande quando esperamos que as pessoas mudem para depois sermos mudados.

A bengala medicamentosa prescrita, ao infinito, pelo médico mantém a cura ilusória da ansiedade e da depressão que carreiam uma infinidade de sintomas e sinais. Infelizmente, qualquer tentativa de diminuir ou suprimir tal bengala desespera o paciente que não encontra mais onde se apoiar, e desajustado emocionalmente continua na fuga irresponsável do mundo real que o rodeia. Dependente do mundo artificial das drogas sedativas e antidepressivas se acomoda nesse falso atalho em busca da felicidade.

O maior inimigo do homem está em si mesmo. Se não temos coragem para nos enfrentar, nos tornamos vítimas das nossas próprias decisões equivocadas. O retrato triste da medicina atual do nosso país: pacientes afobados em filas de atendimento social, médico ansioso acelerando as consultas, e risco de infarto, a fim de esvaziar a sala de espera.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, uma consulta deve durar pelo menos 15 minutos. Não há tempo para dialogar e examinar, e pede-se, com nervosismo e sem rumo de diagnóstico, excesso de exames de laboratório e de aparelhagem com custo cada vez maior para os cofres do governo ou das conveniadas particulares na assistência à saúde.

O Dr. Galvão, dono da antiga Blue Life, dizia com tristeza: "90% dos exames de laboratório são desnecessários, e 50% das cirurgias não têm indicação". A medicina tecnicista perdeu a alma e o romantismo mantendo o paciente apoiado nessa bengala infinita de sofrimento.

 

Mauro Jordão é médico.