Existe uma definição jocosa sobre estatística - "estatística é a arte de torturar os números até que eles confessem o que se deseja". Longe de aceitar isso como uma verdade absoluta, até porque sou sociólogo e pesquisador, mas tenho que reconhecer que em algumas situações a frase se aplica.

Trabalhei muitos anos como pesquisador e, por mais de 30 fui professor da disciplina Metodologia Científica em duas universidades. Portanto, creio que tenho condições de opinar.

Pois bem, o segredo é a metodologia usada. Por exemplo, quando se estrutura uma pesquisa de sondagem eleitoral, para que a metodologia seja adequada, o universo de pessoas pesquisadas (2 mil, 3 mil) deve espelhar aquilo que o universo total apresenta como características.

Uma parte dos institutos de pesquisa que produzem pesquisas eleitorais já possui uma larga experiência nisso e, nesse percurso, foram aprimorando suas metodologias. Por mais que muitos desejam desqualificá-las, principalmente quando elas não traduzem o resultado desejado, elas retratam sim um momento, e são muito utilizadas pelas coordenações de campanhas para reorientar estratégias.

No entanto, gostaria de fazer uma ressalva em relação as pesquisas que não são feitas presencialmente. Vários institutos que divulgam esses levantamentos estão usando a abordagem via celular. E por quê? Bem, estamos falando de um país onde, de acordo com o IBGE, quase 40 milhões não possuem acesso a internet,. O celular é o principal meio para navegar na internet, mas não é um bem de consumo universalizado.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia Econômica (IBGE), no final de 2019 somente 64,8% dos estudantes de escolas públicas tinham o aparelho celular, além do mais, pessoas com baixo nível de escolaridade têm dificuldades em se relacionar com essas ligações eletrônicas.

E essas pessoas então mais concentradas nas regiões Norte e Nordeste. Fazem parte da população mais pobre e, por não terem acesso a internet e celular não participam dessas pesquisas.

Afonso Pola é sociólogo e professor