Nas últimas duas décadas, o tema da juventude ganhou projeção e complexidade. Embora a concepção dos jovens como um problema social permaneça forte, outra percepção vem se delineando. Cresce o reconhecimento de que a juventude vai além da adolescência e de que as ações ela dirigidas exigem novos métodos e novos conteúdos.

É inegável que nosso país vive um processo de envelhecimento. Mas ainda podemos dizer que o Brasil é um país com muitos jovens. Quase 30% da nossa população tem até dezoito anos. É esta faixa que mais sofre com problemas como pobreza, assassinatos e abuso sexual. É o que nos mostra o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em um de seus últimos relatórios "Situação da Adolescência Brasileira".

O resultado desta tragédia se reflete na distribuição da população brasileira quando se considera sexo e idade. Nascem mais homens do que mulheres no Brasil. Mas a predominância da população masculina começa a perder força a partir dos 15 anos, justamente quando a violência mais tira a vida dos nossos jovens.

Em 2006 a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OIE) apresentou um estudo sobre a mortalidade de jovens no país Mais de 70% dos jovens que morrem por mortes violentas são do sexo masculino, negros e que vivem nas periferias.

O impacto disso é tão grande que interfere na nossa pirâmide etária. Em que pese as mulheres serem maioria na nossa população (51,8%) nascem mais meninos do que meninas. Homens são maioria até a faixa de 15 a 19 anos. Na faixa dos 20 a 24 existe igualdade e, a partir daí as mulheres tomam a dianteira.

Reconhecer nossos jovens como sujeitos de direitos e promover a cidadania dos adolescentes de baixa escolaridade e baixa renda, mediante políticas intersetoriais que articulem a elevação da escolaridade, a garantia de renda mínima, o acesso à educação profissional, à saúde e à assistência social, ao esporte, à cultura e ao lazer é o nosso grande desafio.

Se quisermos fazer do Brasil um país sustentavelmente desenvolvido, vencer tal desafio é condição sine qua non

Afonso Pola é sociólogo e professor