A leveza intensifica a sensação de liberdade, mas aporta consigo insignificância e dispersão. Leveza não carrega malas, mas também não cria vínculos!

Desde a descoberta dessa condição, a disputa entre o peso e a leveza tem sido acirrada. No passado, o domínio tecno-econômico consagrou os equipamentos robustos e pesados como os melhores. Ainda, e penso que não será por muito tempo, dizemos que alguém "é de peso" (tem prestígio), mas também já afirmamos que alguém "é um peso" para a família (um fardo). Porém, hoje, muito mais do que qualquer outra época, a leveza ganhou importância. Nunca a leveza criou tantas espectativas, desejos e obsessões. Nunca fez comprar e vender tanto. Ela torno um valor, um ideal a ser perseguido.

A demanda é ser leve, viver de forma solta, sem o peso de amarras. A recomendação é simplificar a vida, viajar com pouca bagagem e eliminar tudo que nos aproxime da terra firme. Todos clamam pela leveza e suas variações: no campo pessoal, há o elogio a magreza, as dietas detox, a desaceleração, a busca do zen, do mindfullness, do minimalismo.

Arquitetura e arte materializam a leveza em linhas sóbrias e materiais finos. Não é mais tecnologia, agora é nanotecnologia que oferece equipamentos cada vez menores e com o mínimo peso. Sem as amarras de fios, são quase etéreos. Por todos os lados, a ordem é desmaterializar. Mais do que dinheiro e felicidade, a escolha do corpo e do espírito é pela mala menos pesada. E exige-se do outro que ele "pegue leve".

E qual é o problema? A ironia. Com todo esse arsenal de leveza, a cada dia, a vida parece mais pesada e difícil de suportar. Dizendo melhor: a busca da leveza é pesada e estamos caminhando em círculos: na busca da leveza, encontra-se o peso e, por isso, aumenta-se ainda mais a sede pela leveza. Para ele, a leveza do digital é uma ilusão. Você pode discordar ou pelo menos considerar um exagero. Afinal: a leveza do mundo digital não é óbvia!

Raul Rodrigues é engenheiro e ex-professor universitário.