Quem jamais ouviu falar de um país tragado pelo caos em que seus cidadãos são ordeiros? Como ninguém ouviu falar de um país ordeiro em que seus cidadãos são indisciplinados? Se uma régua não for reta, não poderá ser usada para traçar um quadrado; se um compasso não estiver equilibrado, não se poderá fazer, com ele, um círculo. Ao se admitir o indivíduo como régua e o compasso o que ele faz, é impossível querer corrigir qualquer um deles.
A intervenção inesperada da graça desorganiza, esquemas de compreensão da vida e da ordem do mundo. A presença da graça codificada transforma a vida pela doçura, pela misericórdia e pela beleza, provocando aquela virtude, de todas a mais difícil: a esperança!
Nos limites dessa esperança, moralistas e estudiosos de hoje exaltam a cultura da antiguidade, mas não a colocam em prática: assim se referem a algo bom que não é praticado! Criticam a época atual, mas não a reformam em nada, e acabam fazendo o que criticam. Apesar disso, podem usar todo o seu poder e reflexão, sem que isso traga algum benefício para a ordem estabelecida. Podem, até, exaurir espírito e conhecimento, só que inútil para o clima presente. Artistas contemporâneos gostam de pintar fantasmas e duendes, mas não cães e cavalos. Por quê? Porque fantasmas e duendes não aparecem em todas as épocas e cães e cavalos podem ser vistos no cada dia.
Para sobreviver a esse perigo e sufocar eventuais desordens, nada pode ser feito, sem sabedoria. Fosse essa uma questão de ter precedentes, mesmo os ignorantes teriam habilidade mais que suficiente. Líderes, quando iluminados não propõem leis marotas ou inúteis, tampouco se dispõem a ouvir palavras desprovidas do mais reles significado!
O que nos faz sorrir, sob a vereda do que todos buscam? Uma harmonia que acalme a maior de todas as tentações espirituais desde sempre: a tentação do desespero! Criada, quase sempre à sombra da ignorância. Do beco sem saída!
Raul Rodrigues e engenheiro e ex-professor universitário