Por conta da próxima eleição, muito se tem falado sobre a polarização que mobiliza o eleitorado. Lula e Bolsonaro aparecem em todas as pesquisas nas primeiras colocações, com uma grande vantagem para o primeiro. Mas não é só essa polarização que vem caracterizando o nosso país. Quando consideramos a forma como se distribui a renda e a riqueza produzidas, podemos perceber o quanto esse processo distancia diferentes segmentos sociais.

E esse é um processo que vem se intensificando por décadas. Em 1985, por exemplo, os dados indicavam que os 50% mais pobres detinham 13% dos rendimentos, enquanto os 1% mais ricos concentravam 14,4%. Já em 2015, a riqueza de 1% da população mundial alcançou a metade do valor total de ativos, o que significa dizer que apenas 1% tem a mesma riqueza que os outros 99%.

Obviamente que essa concentração nas mãos de poucos tem suas consequências práticas. Por exemplo: o Mapa da Desigualdade, que é um levantamento feito pela Rede Nossa São Paulo, mostra que moradores de área nobre da cidade de São Paulo vivem, em média, 23 anos a mais que morador da periferia. E estamos falando da cidade mais rica do país e da América Latina. Enquanto no bairro Alto de Pinheiros (zona oeste) as pessoas vivem em média 80,9 anos, em Cidade Tiradentes (zona leste) essa média é de 58,3 anos.

Estamos falando de um país onde, de acordo com a última Reforma da Previdência, aprovada em 2019, para se aposentar por idade o homem precisa ter, no mínimo, 65 anos e a mulher 62 anos. Ou seja, na prática, em segmentos mais vulneráveis, as pessoas morrem antes de atingir a idade mínima.

E são vários os fatores que contribuem para que a vida média das pessoas que moram nas periferias seja tão baixa. Além do precário acesso aos equipamentos de saúde, essas pessoas vivem em áreas que muitas vezes não dispõem de saneamento básico, o que expõem seus moradores a uma série de enfermidades. Outro fator que também atua na redução da expectativa de vidas daqueles que vivem nas periferias é a violência que atinge principalmente os jovens.

Afonso Pola é sociólogo e professor.