A separação, cuja causa não seja uma discórdia, produz dentro de nós, à medida que a distância aumenta, um vazio daqueles momentos gratificantes. Imagine você o transtorno na mente de Adão após a Queda, quando houve a perda gradual dos privilégios que antes ele usufruía no Jardim do Éden.
Vejamos: primeiro, a mais fundamental, a separação ente o homem rebelde e Deus. A desobediência provocou a queda da sua perfeição mental, ele caiu no intelecto e na vontade. No entanto, Tomás de Aquino ( 1225-1274 ) discordou afirmando que "a vontade humana estava decaída mas não o intelecto". Essa noção incompleta do conceito bíblico da Queda permitiu ao intelecto humano tornar-se "autônomo".
Deus rompeu o relacionamento com o homem, e o homem nessa circunstância, exercendo autonomia, desenvolveu a teologia natural que o permite julgar entre o bem e o mal, pondo em prática, ou não, aquilo que deseja a sua vontade, desprezando a teologia revelada que exige a prática dos mandamentos de Deus.
Segundo: o homem ao separar-se de Deus foi separado, também de si mesmo, gerando os problemas psicológicos, fazendo-o buscar, pela razão, em seu próprio eu um "outro eu" (alter ego) que o ajudasse como deus humano. A esfinge de Tebas assim que se deparava com alguém na cidade apresentava um enigma a ser resolvido na hora, e dizia "Decifra-me ou te devoro". E devorava mesmo segundo o mito, cujo significado nos mostra a falta de autoconhecimento dos enigmas da própria vida. O mesmo se diz do aforismo grego "Conhece-te a ti mesmo" que ressalta a importância de investigar os mistérios do interior do nosso ser.
Terceiro: o homem foi separado dos demais homens, fazendo surgir nele os problemas sociológicos do relacionamento com a sociedade moralmente decaída em que vive.
E, em quarto lugar, o homem foi separado da natureza. Mesmo sendo um ser social, o pior inimigo do homem, e da natureza, é o próprio homem, desde quando perdeu a amizade com Deus.