Professores e padres são vistos socialmente como importantes referências no processo de formação do caráter das pessoas. Indo um pouco além nessa questão, eu diria que professores e padres, pela natureza das funções sociais, assumem papel de protetor de crianças e jovens, principalmente dos mais fragilizados e vulneráveis.
Fragilizada e vulnerável estava a menina que foi estuprada dos 6 aos 10 anos, no Espírito Santo, pelo seu tio, de 33 anos. A Justiça capixaba não hesitou em autorizar o aborto, que foi realizado em hospital de Recife, diante de manifestações favoráveis e contrárias ao procedimento, inclusive com a tentativa de invasão do local, protagonizada por parlamentares de extrema direita e fanáticos religiosos. É importante ressaltar que o local do procedimento e o nome da menina foram divulgados por Sara Winter. Fato esse que configura crime.
Uma criança violentada pelo tio por longos quatro anos, foi julgada e condenada por hipócritas e falsos moralistas. Assim como foi julgado e condenado o médico e o juiz.
Depois desses acontecimentos, era de se esperar que nada pudesse ser pior. Ledo engano. Na esteira da repercussão, nas redes sociais, surgem dois personagens que conseguiram superar todo e qualquer comentário. Uma professora de Educação Básica e um padre.
Uma professora de educação básica da rede pública postou em uma rede social, comentários minimizando o caso: "não foi nenhuma violência". "deve ter sido bem paga" para manter uma "vida sexual". A professora foi demitida.
O padre Ramiro José Perotto, de Carlinda, escreveu em sua rede social que duvidava que criança estuprada pelo tio tivesse sido abusada. "Você acredita que a menina é inocente? Acredita em Papai Noel também. 6 anos, por 4 anos e não disse nada. Claro estava gostando. Por favorkkkkk gosta de dar, então assuma as consequências". Professora e padre. Dois personagens que deveriam ser referência para a sociedade protagonizam espetáculo tão vil. Como tantos outros, eles pensam assim. E mais que pensar, eles se exibem para seus pares.