Desde que assumiu o Ministério da Educação, no lugar de Ricardo Vélez Rodríguez, em abril do ano passado, Abraham Weintraub adotou um expediente de trabalho pouco ortodoxo para a Pasta, cercado de falas polêmicas e posicionamentos contraditórios a respeito do ensino no país. Ainda na quinta-feira, antes de ser demitido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e já ciente de que a sua saída estava decretada, Weintraub encontrou tempo para suspender a portaria que garantia cotas em cursos de pós-graduação nas universidades federais para negros, indígenas e pessoas com deficiência, medida garantida em 2016, após longo período de luta das minorias.
No último domingo, o então ministro circulou tranquilamente por Brasília em meio a grupos apoiadores, desobedecendo às regras da capital federal sobre isolamento e uso de máscara de proteção. Resultado da travessura: uma bem aplicada multa de R$ 2 mil. O ex-ministro ainda travou uma batalha contra o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no ano passado, desqualificando a prova organizada pelo MEC para o ingresso nas universidades, além de interferir na elaboração de questões de cunho histórico-político.
Sua infração mais grave, no entanto, deu-se na fatídica reunião ministerial de 25 de abril, a mesma cujo conteúdo o ex-ministro Sérgio Moro, da Justiça, apresentou como prova para a acusação de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. Na ocasião, mais exaltado, Weintraub disse aos colegas: "Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF". Com isso, declarou guerra aos ministros do Supremo e praticamente selou a sua saída do Ministério da Educação.
No bom estilo Bolsonaro, de não medir palavras e consequências, Weintraub tornou-se um peso no governo, mas quando precisou falar, convocado para depor no inquérito das fake news, preferiu o silêncio. Ainda tentou, por meio de um habeas corpus, se livrar do processo, mas foi derrotado por inquestionáveis 9 a 1 no STF. O agora ex-ministro gabou-se no discurso de despedida do ministério de estar indo para o Banco Mundial, nos Estados Unidos, porém a sua folha corrida do último ano o desabona até para eleição de síndico, com todo o respeito que a categoria merece.