A diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Carissa Etienne, alertou ontem que os países devem ser muito cuidadosos ao começar a flexibilizar as medidas de isolamento. Ela disse que uma segunda onda de contágios pelo coronavírus pode levar à perda dos esforços feitos até o momento.
De acordo com a Opas, as Américas já registraram quase 3 milhões de casos da Covid-19, e as curvas de contágios seguem aumentando em muitas áreas, ou seja, mais pessoas adoecerão amanhã do que hoje. Apenas na semana passada, foram registrados 732 mil casos novos no mundo, dos quais mais de 250 mil em países latino-americanos. A região das Américas contabiliza mais da metade dos novos casos reportados mundialmente.
"A situação é terrível, mas não desesperadora. Temos de aplicar as estratégias que vimos comprovadas até agora. Essa é a única saída", afirmou.
A diretora da organização chamou a atenção para três pontos fundamentais. O primeiro é que os governos devem pensar duas vezes antes de flexibilizar as medidas de distanciamento social, pois essa segue sendo a melhor estratégia para conter a propagação do vírus. "Muitos lugares que viveram durante dois meses as ordens de permanecer em casa agora pensam abrir. Devemos ser cuidadosos. Meu conselho é que não abram rápido demais. Há o risco de uma reemergência da Covid-19, que poderia apagar todas as vantagens que conseguimos nos últimos meses", alertou.
Ela reforçou que, até o momento, as medidas mais efetivas são a ampla testagem, o rastreio dos casos e contatos, o tratamento dos doentes e o isolamento dos pacientes. E que o distanciamento social desacelera a transmissão de maneira que os serviços de saúde possam não entrar em colapso.
O segundo ponto é a vigilância como ferramenta mais valiosa para orientar as ações de saúde pública. "Mesmo que a capacidade de testes não seja perfeita, praticamente todos os países da região têm suficientes dados para rastrear e monitorar a propagação do vírus. Isso é que deve impulsionar nossa decisão, e ajudaria a dirigir as medidas de apoio social mais adequadamente", afirmou a dirigente.
O terceiro ponto é o fortalecimento dos sistemas de saúde. "Nos últimos meses, os países deveriam ter fortalecido seus sistemas de infraestruturas sanitárias para essa onda, que sabíamos que vinha. Especialmente melhorando a capacidades dos hospitais. Muitos lugares estão esgotados e operando no limite de suas capacidades", completou Carissa.